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FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
ADVÉRBIOS, UMA ABORDAGEM CRÍTICA
Esse trabalho irá apresentar alguns questionamentos quanto à classificação dos advérbios segundo a gramática tradicional. Para isso, serão utilizadas as definições de advérbios de algumas gramáticas norma-tivas em confronto com os estudos de Mattoso Câmara Jr., Eneida Bom-fim, José Carlos de Azeredo, Maria Cecília Silva e Ingedore Koch sobre tal assunto. O ADVÉRBIO SEGUNDO A GRAMÁTICA TRADICIONAL As gramáticas tradicionais definem o advérbio como o termo que modifica o verbo, caracterizando o processo verbal. No caso de advérbios de intensidade, além do verbo, estes poderão modificar um adjetivo ou outro advérbio. Segundo Cipro Neto e Infante (2003: 262), “o papel básico dos advérbios é (.) relacionar-se com os verbos da língua, caracterizando os processos expressos por eles”. Os autores acrescentam que “a caracteri-zação adverbial pode, no entanto, indicar a subjetividade de quem analisa um evento: o advérbio deixa de ter papel descritivo e passa a traduzir sentimentos e julgamentos de valor de quem escreve ou fala”. Como e-xemplo, os autores colocam o poema “Madrugada”, de Ferreira Gullar; em que há o trecho: “A noite ocidental obscenamente acesa/ sobre meu país dividido em classes” (grifo meu). O advérbio “obscenamente” ex-pressa a opinião e um julgamento de valor do eu lírico sobre a noite. Tais autores conceituam o advérbio como “a palavra que caracte- riza o processo verbal, exprimindo circunstâncias em que esse processo se desenvolve” (Cipro Neto e Infante, 2003, p. 263). Entretanto eles a-crescentam que no caso dos advérbios de intensidade e de modo, pode haver a modificação de adjetivos e advérbios: “Diferentemente do que seu nome indica, o advérbio não é modificador exclusivo do verbo. Os advérbios de intensidade e os de modo podem modificar também adjeti-vos e advérbios” (Cipro Neto e Infante, 2003, p. 263). SOLETRAS, Ano VIII, N° 15. São Gonçalo: UERJ, jan./jun.2008
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“Esse é o procedimento menos adequado para quem se diz politicamente correto.” Nessa frase, o advérbio de intensidade “menos” modifica o adjeti- vo “adequado”; enquanto que o advérbio de modo “politicamente” modi-fica o adjetivo “correto”. Cipro Neto e Infante (2003) também afirmam que há casos em que os advérbios podem se referir a uma oração inteira. Segundo os auto-res, normalmente, nesses casos, os advérbios “transmitem a avaliação de quem fala ou escreve sobre o conteúdo da oração”. Isso ocorre em frases do tipo: “Infelizmente, o congresso não aprovou o projeto” ou “Lamenta-velmente, ele não estará conosco na próxima semana” (p. 264). Na pri-meira frase, o advérbio indica que o falante gostaria que o congresso a-provasse o projeto. Já na segunda, o emissor desejaria a presença do seu referente na próxima semana. A definição que Cereja e Magalhães (1999, p. 172) fornecem de advérbio não difere muito da vista anteriormente: “Advérbio é a palavra que geralmente modifica o verbo, indicando as circunstâncias em que se dá a ação verbal”. Entretanto, os autores acrescentam que os advérbios também podem modificar não só os adjetivos e os advérbios, conforme Cipro Neto e Infante disseram, mas também os substantivos: “Etimologi-camente, advérbio – ad (“junto de”) + verbo – significa “o termo que a-companha o verbo”. Apesar disso, os advérbios de intensidade podem acompanhar, além do verbo, substantivos, adjetivos e advérbios”. Como exemplo de advérbio modificador de substantivo, há a seguinte frase: “Quase médico, já consulta com eficiência”. O advérbio “quase” estaria, nesse caso, modificando o substantivo médico. Outra divergência existente entre as duas gramáticas refere-se à classificação do advérbio “nunca”. A gramática de Cipro Neto e Infante classifica tal advérbio como de tempo; enquanto que a de Cereja e Maga-lhães, como de negação. Contudo, ambas as gramáticas afirmam que os advérbios são pa- lavras invariáveis em gênero e número, mas podem variar em grau (com-parativo e superlativo). Cunha e Cintra (2007, p. 541) classificam o advérbio como “fun- damentalmente, um modificador do verbo”. Mas acrescentam que os ad-vérbios de intensidade podem reforçar o sentido de um adjetivo e de um advérbio, como Cipro Neto e Infante colocaram. Além disso, Cunha e SOLETRAS, Ano VIII, N° 15. São Gonçalo: UERJ, jan./jun.2008
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Cintra ressalvam que há advérbios que modificam toda a oração. Isso a-parece nas três gramáticas aqui mencionadas. Cunha e Cintra (2007, p. 542), no entanto, observam que Sob a denominação de ADVÉRBIOS reúnem-se, tradicionalmente, numa classe heterogênea, palavras de natureza nominal e pronominal com distribui-ção e funções às vezes muito diversas. Por esta razão, nota-se entre os lingüis-tas modernos uma tendência de reexaminar o conceito de advérbio, limitando-o seja do ponto de vista funcional, seja do ponto de vista semântico. Para Câmara Jr. (1970) os vocábulos dividem-se em nomes, pro- nomes e verbos. O advérbio, para ele, é um nome ou um pronome exer-cendo uma função modificadora. Dessa forma, o advérbio não seria uma classe de palavra e sim uma função que determinados vocábulos (nomes ou pronomes) exercem na frase. Os vocábulos, de acordo com sua hierarquia funcional, podem ser primários, secundários e terciários, ou seja, principais, adjuntos e subjun-tos (Jespersen apud Câmara Jr, 1970). Com isso, os substantivos são principais ou primários, pois constituem o elemento determinado de um sintagma. Os adjetivos, por sua vez, são secundários ou adjuntos por se-rem determinantes. Já os advérbios são terciários ou subjuntos, uma vez que são determinantes de outros determinantes: “o advérbio é o determi-nante de outro determinante: modifica assim o adjetivo, o verbo ou o verbo conjugado com seus complementos essenciais, porque este (.) é determinante de um nome ou pronome sujeito” (Câmara Jr, 1970, p. 160). Para Câmara Jr. (2004), palavras como “aqui”, “aí”, “ali” e “lá”, classificadas pela gramática tradicional como advérbios de lugar, são lo-cativos, isto é, pronomes demonstrativos com função adverbial. Bomfim (1988) também questiona a classificação de tais palavras como advérbios. A autora defende que estes são pronomes, uma vez que são dêiticos e podem exercer função de sujeito. Como exemplo, a autora coloca as seguintes frases: “Aqui é o melhor lugar do mundo” e “ con-tinua um paraíso” (Bomfim, 1988, p. 36). Além desses, a autora inclui como pronomes os advérbios de tempo “ontem”, “hoje”, “amanhã”. Es-ses seriam locativos temporais e, como os locativos espaciais, também são dêiticos e podem exercer função de sujeito. SOLETRAS, Ano VIII, N° 15. São Gonçalo: UERJ, jan./jun.2008
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Além disso, Bomfim ressalva que “lá” pode ser antecedente de um pronome relativo. Como o pronome relativo possui sempre um nome como antecedente, tal vocábulo seria, então, um pronome e não um ad-vérbio. Para ilustrar tal afirmação, há a seguinte frase: “onde morei mora agora meu cunhado” (Bomfim, 1988, p. 36). Bomfim critica a conceituação de advérbio dada pelas gramáticas tradicionais, pois há advérbios que não expressam circunstância, não se referem ao processo verbal e não são intensificadores como afirmam tra-dicionalmente as gramáticas. Os advérbios de negação, afirmação e dú-vida estão nesse caso. Tais palavras, na verdade, “expressam uma opini-ão do locutor ou sua dúvida sobre o enunciado” (Bomfim, 1988, p. 6). No caso dos advérbios de dúvida, por exemplo, a dúvida não é uma cir-cunstância dada ao verbo. A incerteza sobre algo é pertencente ao próprio sujeito da enunciação. A autora também comenta que os advérbios de intensidade rela- cionam-se a adjetivos e a advérbios para expressar grau e não para inten-sificá-los. Há também casos em que tais advérbios não se relacionam a adjetivos ou advérbios de fato. Como exemplo, há as seguintes frases: “Andou muito” e “Comeu pouco” (Bomfim, 1988, p. 7). A autora defende que “muito” e “pouco”, nas frases anteriores, incidem sobre o resultado do processo verbal e não sobre o verbo. Na primeira frase, “muito” refere-se ao espaço percorrido (cf. “Andou mui-tas léguas”). Já na segunda, “pouco” refere-se ao volume do que foi co-mido (cf. “Comeu poucas frutas”). Nessas estruturas, Bomfim acredita que não há nem intensificadores nem advérbios, mas pronomes indefini-dos (Bomfim, 1988, p. 8). As frases em que realmente é o processo verbal que é atingindo são: “Amou muito” e “Trabalhou pouco”. Isso pode ser percebido com-parando as frases anteriores com “Na juventude amou muito muitas cam-ponesas”. Dessa forma, Bomfim afirma que há dois tipos de intensifica-dores: 1) os de adjetivos e advérbios; e 2) os de verbos. A autora questiona também a classificação dos advérbios interro- gativos. Segundo ela, “considerar estes vocábulos simplesmente como advérbios de tempo, de lugar, etc. implica considerar as interrogações indi-retas como orações substantivas sem conectivos” (Bomfim, 1988, p. 14). Azeredo (1999, p. 43) define os advérbios como a classe de “pa- lavras invariáveis que, quanto à distribuição, funcionam como modifica- SOLETRAS, Ano VIII, N° 15. São Gonçalo: UERJ, jan./jun.2008
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dores, quanto a o sentido, exprimem circunstâncias (tempo, lugar e mo-do), intensidade ou atitude”. Além disso, os advérbios servem como nú-cleo de um sintagma verbal (Azeredo, 2004). O autor acrescenta que o sintagma adverbial pode servir de predi- cador ou modificador. Quando predicador, será introduzido pelo transpo-sitor “ser”, conforme os seguintes exemplos: “O acidente foi aqui”, “A inauguração será amanhã”, etc. Já como modificador, pode relacionar-se: 1) a toda oração, como nas frases “Devagar se vai ao longe” e “Talvez eles possam vir”; 2) ao verbo (“Eles conversaram demoradamente” e “Estamos morando aqui”); 3) ao adjetivo (“levemente ferido”); 4) ao substantivo (“os exemplos acima”); 5) ou então a outro advérbio: “incri-velmente longe”. (Azeredo, 1999, p. 96). Azeredo (2004) ressalta que a maioria dos verbos é empregada para localizar os objetos aos quais fazemos referência no tempo e no es-paço. Portanto, os advérbios exprimem basicamente “posições temporais relativamente a um ponto convencional na linha do tempo” e “posições espaciais relativamente a um ponto convencional no espaço, físico ou textual” (Azeredo, 2004, p. 143-4). O autor salienta que as subclasses de advérbios de intensidade, de modo, de dúvida e de negação são bem me-nores. Silva e Koch (1996) classificam os advérbios como “modificado- res circunstanciais” e inserem-nos nos sintagmas preposicionados. Isso corrobora com Bomfim (1988) que defende que os advérbios possuem uma preposição implícita. Para exemplificar tal afirmação, Bonfim (1988) utiliza a seguinte frase: “Vamos marcar o encontro ”. Se essa frase for confrontada com “Vamos marcar o encontro na praia”, perce-be-se que o não vem regido de preposição, mas tem a preposição em implícita, como atesta a segunda frase. Em frases como “Felizmente, não houve vítimas no desastre”, em que “Felizmente” relaciona-se a toda a oração, Silva e Koch (1996: 20) não classificam tal termo como modificador circunstancial, uma vez que não está indicando nenhuma circunstância. A tal palavra, atribuem a de-nominação de “modalizador” ou “modificador atitudinal”, uma vez que “felizmente” exprime o sentimento do falante em relação aos fatos da proposição. SOLETRAS, Ano VIII, N° 15. São Gonçalo: UERJ, jan./jun.2008
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Considerando os argumentos expostos anteriormente, pode-se perceber que não há um consenso quanto à classificação dos advérbios. Desse modo, faz-se necessária uma revisão da nomenclatura gramatical brasileira quanto a esse aspecto. É preciso que determinadas classificações e conceitos a respeito dos advérbios sejam revistos para que as falhas existentes na classifica-ção tradicional sejam corrigidas e não continuem a ser ensinadas como a gramática normativa prescreve. AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos de gramática do português. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. ––––––. Iniciação à sintaxe do português. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. BOMFIM, Eneida. Advérbios. São Paulo: Ática, 1988. CÂMARA JÚNIOR, J. Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. 36ª ed. Petrópolis: Vozes, 2004. ––––––. Princípios de lingüística geral. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1970. CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramáti-ca reflexiva: texto, semântica e interação. São Paulo: Atual, 1999. CIPRO NETO, Pasquale e INFANTE, Ulisses. Gramática da língua por-tuguesa. São Paulo: Scipione, 2003. CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova gramática do português con-temporâneo. Rio de Janeiro: Lexikon Informática, 2007. SOUZA E SILVA, Maria Cecília Pérez e KOCH, Ingedore. Lingüística aplicada ao português: sintaxe. São Paulo: Cortez, 1996, p. 67-9. SOLETRAS, Ano VIII, N° 15. São Gonçalo: UERJ, jan./jun.2008

Source: http://www.filologia.org.br/soletras/15/adverbios_uma_abordagem_critica.pdf

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