Microsoft word - mfn_fim _text _aveiro.doc

DEBATER A EUROPA
Periódico do CIEDA e do CEIS20, em parceria com GPE e a RCE.
N.5 Julho/Dezembro 2011 – Semestral
ISSN 1647-6336
Disponível em: http://www.europe-direct-aveiro.aeva.eu/debatereuropa/
Construção de Identidades Europeias: os
Congressos Científicos, laboratórios de construção
de identidades. Breves considerações
Professora Associada com Agregação: Universidade de Évora Centro Estudos História e Filosofia da Ciência (CEHFCi) Resumo
Construção de Identidades Europeias: construção de identidades nacionais. Congressos
Científicos como laboratórios de práticas de identidade na primeira metade do século XX. Gramática de elementos para entender a construção a Europa século XX – XXI. Palavras-chave: Identidade, Memória, Ciência

Abstract
Construction of European Identities: the construction of national identities. Scientific Congresses as laboratories for practical identity in the first half of the twentieth century. Grammar elements to understand the construction of Europe XX- XXI. Keywords: Identity, Memory, Science
A força do cientismo a partir da segunda metade do século XIX deu força de legitimidade aos Estados para mostrarem em montras públicas as marcas da construção das suas identidades. 1 Sinais nacionais, mas sempre eivados de referentes de progresso, de palcos de modernidade, de contexto em que se remetia o consumidor/público para as traves mentais da Ciência e da Técnica. Um movimento que, rapidamente, se espalhou por toda a Europa e também pelo mundo ocidental da América, através de grandes realizações colectivas, de enorme impacto visual, social, cultural e mental. Falamos das 1 Este texto insere-se no projecto de investigação FCT HC/0077/2009: A investigação científica em Portugal no período entre duas guerras mundiais e a Junta de Educação Nacional (JEN). Grandes Exposições e dos Congressos Internacionais que em jeito de peregrinação se iam realizando pelo mundo civilizado e cientificamente desenvolvido (Nunes 2012). Grandes movimentos culturais e de mostras de progresso que permitiam aos Estados Nações da Europa construir marcas de identidade e de inevitável superioridade sobre um mundo considerado diferente. Nessa diferença encontra-se o gérmen da criatividade de um sentimento Europa que devia ser evidenciada em Exposições e em Congressos Científicos, nacionais e internacionais. A comunidade científica alimentava pois duplo espírito de um nacionalismo cultural e político, mas também a vertente de fazer transmitir a ideia da existência de um denominador comum: a Ciência na Europa, associada a sua divulgação de encontros científicos a uma prática de publicitação dos trabalhos dos congressos em vários idiomas através de programas, de livros de actas, de reflexos em publicações científicas e em revistas generalistas (Lopes 2011). A organização destes eventos obedecia a um cosmopolitismo de uma retórica de exibir os sinais de identidade nacional de cada um dos Estados envolvidos. Para o caso das Exposições a bibliografia existente – e a vasta documentação iconográfica já disponível – revela o formato e características dos pavilhões nacionais de cada país, facilmente se detectando os ícones do nacionalismo europeu em crescente afirmação Interessante é voltarmo-nos para a existência de uma mesma gramática de objectivos e de compromissos que se realizava com a crescente afirmação internacional da profissão de cientista: médicos, geólogos, arqueólogos, físicos, químicos, matemáticos, cientistas que desvendam o insondável mistério da Natureza. Referimo- nos aos Congressos Científicos sempre organizados pela comunidade científica activa, com total envolvimento institucional, nacional, de Universidades, Academias, Sociedades Científicas, Museus de História Natural, Escolas Politécnicas e Instituições Científicas. Um método que se alarga para o plano internacional, não havendo um desequilíbrio entre a organização funcional e a prática de referência do plano nacional e do plano internacional; antes um mesmo caldo cultural de ciência e de prática científica de organização de eventos, bebida a partir do espaço público das Luzes no contexto da É neste contexto que devemos inserir e referir as políticas de Estado para a investigação na Europa, personificadas em Portugal pela existência da Junta de Educação Nacional (JEN: 1929-1936) e, posteriormente pelo Instituto para a Alta Cultura (Lopes 2011; Rollo2011). Matrizes de pensar a investigação científica – e a sua projecção pública – num ambiente de construção de Europa, dado que este organismo plasmava directamente o caso da Junta de Ampliación de Estudios (Madrid) e o contexto da Bélgica (Lopes 2011; Rollo et all 2011). Se por um lado era a vertente europeia de criar uma gramática de políticas de investigação, na qual a organização e participação de Congressos Científicos tinha um peso determinante para a circulação dos saberes, das ideias, das pessoas, por outro, estes mega acontecimentos proporcionavam a cada um dos estados nações de uma Europa entre Guerras de afirmarem o seu cunho identitário, de matriz sempre europeia, de origem miticamente grega, no milagre grego de onde desabrochou a Filosofia e a Porém, é relevante aqui marcar que, a encimar toda esta azáfama organizativa de índole científica, sempre se encontrava o Estado cujo braço activo no espaço público sempre encontrava forma de fazer enaltecer os sinais de construção de identidade nacional na sinfonia das nações presentes a darem o seu contributo científico avançado Portugal insere-se exactamente nesta tradição, obedecendo, por via do mimetismo cultural e científico, aos arquétipos aprendidos com a presença de membros da comunidade científica portuguesas em diferentes congressos internacionais desde o último quartel do século XIX e ao longo do século XX (Lopes 2011). Estamos em acreditar que estes cientistas foram, também, aprendizes de embaixadores de construção de identidades, dado que tiveram o capital simbólico e científico necessário para trazerem até ao extremo ocidental da Europa a realização de um Congresso científico O programa social e o programa oficial: a conjugação de efeito Europa, no jeito de um «grand tour» de Congressos científicos pela Europa do «milagre grego» em termos de ciência e arte! Para além da formatação organizativa do evento científico – divulgação, secções temáticas relevando o «estado de arte» da ciência, com linguagem científicas inovadoras, convite de conferencistas convidados, local das conferencias de aberturas e de encerramento, edição dos materiais, incluindo as actas dos trabalho, os membros da comunidade científica rapidamente entenderam que havia uma outra vertente visível e com significado simbólico muito importante para a afirmação da comunidade nacional no contexto das nações científicas. Referimo-nos à elaboração do programa social e ao enquadramento institucional ao mais elevado nível das esferas do Estado para mostrar ao público internacional a memória nacional e a mostra pública da identidade nacional – sempre em construção e afirmação – de modo a trazer ao caldo científico do evento as referências de um passado e de um presente de longa duração (Nunes 2010). E nestas epopeias de festividade o público era numeroso e de elevada qualidade social e cultural: ou seja os congressistas e acompanhantes, verdadeiros mensageiros e difusores do que ia acontecendo e do que os ia marcando. Assim, não parece estranho que os Congressos fossem antecedidos pelo funcionamento de verdadeiras máquinas de diplomacia científica, com a determinação dos discursos oficiais pelas altas individualidades do Estado e pela organização das visitas do programa social. Nada era descurado ou deixado ao acaso; cada visita, cada passeio tornava-se num momento único e impressionista da memória colectiva da nação e do que essa memória pretendia simbolizar e fazer valer em termos de publicidade internacional, em plena ascensão do patriotismo colonial de fim de século XIX até à eclosão da II Grande Guerra. Momento da emergência e vitalidade dos Estados – Nações e dos desígnios de construção de um império colonial. Marca de uma história de Europa comum, identidades construtoras de um espaço europeu com ramificações por Mas é necessário juntar igualmente a esta construção de identidade nacional – identidade colonial as idiossincrasias europeias de longa duração, de persistência e de inequívoca legitimidade científica para justificar a existência de um Estado Nação. A instrumentação do laboratório – os congressos como cadinhos de observação – é também útil para se entender esta faceta de construção de uma identidade europeia, diferenciada cientifica e culturalmente de congressos realizados, por exemplo, na América Latina, as jovens nações, com jovens comunidades científicas e jovens Estados que se iam afirmando na cena diplomática internacional (Lopes 2011). Temos, pois, que considerar que existem esteios de ligação de sentido entre as Exposições Internacionais e a realização de Congressos Internacionais, ou mesmo de congressos nacionais que sempre contavam com alguma individuardes internacional para alimentar o debate científico e aferir as redes de trabalho que as sociedades científicas vinham alimentando desde o início do século XX: signos linguísticos (em inglês, a emergente língua científica de um anúncio de tempo de globalização) International Exhibition, National Congress, International Congress. Rótulos que permitem ir em busca de vários sinais de práticas científicas, de diferentes s ligações, agendas de investigação distintas, diferentes formas de abordar o material de abordagem dos congressos – programas, actas, impacto na imprensa, informação social, envolvimento do Estado e das instituições científicas. Havia que afirmar a identidade científica existente nas potencialidades da Nação, nunca perdendo o carácter internacional da produção científica. Ambiguidades que o interior dos programas sociais – fundamentes estes – exibiam que se tratavam de um ciência internacional mas praticada no contexto da afirmação de um Estado com características de Nação identitária diferenciadoras, mas pertencendo a uma longa gesta comum: a Europa! Não apenas os cafés de Georges Steiner que dão o toque europeu, as bibliotecas, os museus, os laboratórios, os jardins botânicos, as salas das Sociedades de Geografia, os anfiteatros são também sinais inequívocos de uma Europa científica. Interessante é poder entender o papel de Portugal neste entendimento científico de um espaço Europa para debater as disciplinas cientificas, com signo do cientismo e com o signo do cunho de nação – nacionalismo – Europa, como um espaço e um território de identidade para debater e conhecer Ciências. E tudo pode começar, simbolicamente, em 1900, o novo século XX. 1900: História da Matemática: 1900 Paris – Exposição Universal. Uma pedra de toque para evidenciar o público entendimento da ciência em Portugal, em contexto internacional, num cenário europeu: Paris da Torre Eiffel e dos pavilhões coloniais que se perfilavam ao longo do Sena (Nunes 2010). Logo seguimos para um dos mais emblemáticos Congressos ocorridos em Portugal no início do século XX: 1906, Lisboa, XV Congresso Internacional História da Medicina, a partir da vanguarda cientifica de Miguel Bombarda que havia participado no internacional de final de século XIX. Podemos aqui apontar em, 1923, o Congresso Internacional de Medicina Tropical Luanda – acompanhado da realização da Exposição Colonial – o cruzamento da identidade cientifica, com identidade europeia e construção de uma posição e de uma memória portuguesa, colonial. Registos organizativos, formais e informais, que espelharam a gramática de Congresso europeu. A década de trinta de um Portugal científico na Europa entre Guerras é particularmente importante para se entender as políticas científicas europeias da altura (Lopes 2011; Rollo 2011). Em 1930 ocorrem em Portugal o 13º Congresso Internacional de Hidrologia, Climatologia e Geologia; em 1934 o Congresso Antropologia Colonial, no âmbito da Exposição Colonial, no Porto, tendo como figura paradigmática de um conjunto de ciências e de políticas científicas a personalidade do cientista Mendes Correia. Na ressaca da sociabilidade científica, e de propaganda nacional em contexto de divulgação internacional, se insere a realização, na sequência do Congresso de Antropologia Colonial III Congresso Internacional de História da Ciência, desenrolando-se durante uma semana (final de Setembro, início de Outubro) pelas três cidades da Ciência na sociedade portuguesa: Porto, Coimbra e Lisboa, contando com presença de inúmeros personalidades de renome da jovem disciplina em tempo de afirmação profissional – História da Ciência – nomeadamente a figura de Georges Sarton (Nunes 2009). O périplo grandes acontecimentos científicos continuou: Lisboa, 1935, recebe o Congresso Internacional de Zoologia, para se prolongar cientificamente, em tempo de um mundo em guerra, em 1941 o Congresso Nacional de Ciências Naturais, sob patrocínio e organização da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, cuja publicação oficial, o Bulletin de la Société Portugaise des Sciences Naturelles, teve o papel de divulgar internacionalmente este Congresso Nacional, que contou com a presença de vários convidados estrangeiros, de modo a darem brilho complementar à realizarão intitulada de nacional, ainda que seguisse os modelos de habituais realizações internacionais. Em tempo de plena II Guerra Mundial o espaço português parecia favorável à recepção destes eventos; registe-se em 1942, no Porto, o Congresso Luso Espanhol para o Progresso das Ciência, tendo como organizador determinante a figura de Mendes Correia, defendendo a importância de congresso científicos para a valorização da ciência e a projecção internacional da política científica do Estado. Ideias corroboradas, em 1944, por Celestino da Costa, Presidente do Instituto para a Alta Cultura, no âmbito da sessão de abertura do Congresso Luso-Espanhol da Associação do Progresso das Ciências, realizado na cidade espanhola de Córdova Portugal, no pós guerra, em numa reconfiguração política e colonial da Europa saída de 1945, organiza e recebe, em 1949, em Lisboa, o Congresso Internacional de Geografia, ponto alto do encontro desta área de saber – Geografia – entre as ciências naturais e as ciências humanas e sociais, em termos internacionais. Mais uma vez a diplomacia da ciência articulada com a sala de recepções da Sociedade de Geografia de Lisboa – Sala de Portugal – permitiu dar brilho e configuração cultural e de construção de identidade nacional para a comunidade portuguesa, a partir de Lisboa, como o epicentro de um império colonial, lançando pontes para África e espaços da Ásia, mas com uma gramática de organização formal e de linguagens de ciência de matriz Alguns detalhes finais para pensar em tom de reflexão. Os Congressos científicos, quer de designação nacional ou internacional, constituem um território de exploração muito vasto para analisar, investigar e reflectir sobre as política nacionais de ciência, como políticas europeia de desenvolvimento cientifico e como formas de comunicação cientifica e cultural dos países do velho continente desde o final do século XIX, ou seja num tempo longo de maturação da ideia de uma Ciência na / para a Europa das Nações do século XX, talvez mesmo do século XXI, com os actuais programas de mobilidade europeia da geração de Erasmus. Congressos internacionais e nacionais são fóruns privilegiados de análise para mostrar que a dimensão científica deve estar associada à social e à política decorrente das práticas científicas. Neste contexto, há laboratórios de observação instrumental que podem dar várias pistas para novas agendas de reflexão sobre a construção de uma Europa da Ciência: a lista de participantes, as comissões organizativas, científicas, de secções; as arbitragens científicas; os conferencistas principais e os convidados nacionais e internacionais; os discursos oficiais de abertura e sessões solenes com presença dos dignitários do Estado; os responsáveis de secções, abrindo e fechando as sessões; os programas sociais e culturais; as autoridades científicas e políticas, patrocinadores e instituições convidadas. Elementos que permitem entrar no território de investigação da formulação de Ciência – Estado – Nação em contexto de uma ideia de Europa e de um internacionalismo onde vigora uma matriz de construção de identidade de Europa de tempo de longa duração em imaginário e em mito de criação Referências bibliográficas:
Lopes, Quintino, «Congressos Científicos: a Junta de Educação Nacional e as redes internacionais de comunicação em ciência», Workshop Papers, CEHFCi/Jen_Projecto [ Nunes, Maria de Fátima, «O III Congresso Internacional de História da Ciência. Portugal. 1934. Contextos científicos, contextos culturais e políticos», Caminhos de Cultura em Portugal (coord. Fernando Machado), Braga, E. Humús, 2009, pp.130-160. Nunes, Maria de Fátima, «Memória (e) História da Matemática em Portugal (1900– 1940): A construção de uma identidade científica europeia», História da Matemática (Ed. Luís Saraiva), Boletim da Sociedade de Matemática – SPM, nº 65, 2010, pp. 39-53. Nunes, Maria de Fátima, «Cientistas em acção: congressos, Práticas Culturais e Científicas (1910-1940)», República, Universidade e Academia, Coimbra, Ed. UC, Rollo, M. F, Queiroz, M. I, Brandão; T., «Pensar e mandar fazer ciência. Princípios e pressupostos da criação da Junta de Educação Nacional na génese da política de organização científica do Estado Novo», Ler História, nº 61, 2011, pp.105-145.

Source: http://europe-direct-aveiro.aeva.eu/debatereuropa/images/n5/fnunes.pdf

Microsoft word - chemical-petrochemical-industry

CHEMICAL AND PETROCHEMICAL INDUSTRY 1. OVERVIEW Historical development Chemical industry is one of the oldest industries in India. The industry, including petrochemicals, and alcohol-based chemicals, has grown at a pace outperforming the overall growth of the industry. The Chemicals Industry comprises both small and large scale units. The fiscal concessions granted to small sector

askquestions.org

Safe Choices for Troubled Teens Residential treatment centers for troubled teens are plagued by allegations of abuse and ineffectiveness. But do anguished parents have an alternative? By Anthony Meza-Wilson and Christy HarrisonPosted August 12, 2004 at www.askquestions.orgHelen Taylor didn’t feel like she had much choice. A registered nurse and mother of five,Taylor was caring for a sick p

© 2010-2018 Modern Medicine