12 - saúde - yara

PADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS SÓLIDOS ORAIS VIA SONDA NASOENTERAL EM UM
HOSPITAL DE CASCAVEL, PARANÁ
RESUMO:
A Administração de medicamentos por meio de sondas de nutrição enteral constitui uma prática comum em ambiente hospitalar, e as grandes
preocupações relacionam-se a obstruções do cateter e incompatibilidades entre fármacos e nutrientes. Objetivo: Analisar os medicamentos sólidos
orais padronizados em um hospital particular de Cascavel, descrevendo um padrão de utilização de medicamentos em pacientes que fazem uso de
sonda nasoenteral e propondo alternativas de trocas de formas farmacêuticas de modo a contribuir para a farmacoterapia do paciente. Método: A
padronização foi realizada através de revisão de literaturas relacionadas e pesquisa em bulas de medicamentos e na Farmacopéia Brasileira IV (2002),
além de publicações referentes ao tema, selecionadas segundo a atualização e presença de resultados significativos. Além do princípio ativo do
medicamento, foram analisados os excipientes e a sua relação com os casos de obstrução de sonda nasoenteral após administração. Resultado: Foram
analisados 204 medicamentos sólidos orais dos quais 138 podem ser administrados com segurança por sonda nasoenteral e propostas 84 alternativas
para os medicamentos impossibilitados de administração por sonda nasoenteral. Conclusão: A padronização de medicamentos via sonda nasoenteral
é de possível realização, sendo necessária a implantação e a conscientização dos profissionais da saúde sobre sua importância afim de diminuir custos
e complicações ao paciente sondado.

PALAVRAS-CHAVE: obstrução, degradação, dieta enteral, vias de administração, formas farmacêuticas
STANDARDIZATION OF SOLID ORAL MEDICATIONS VIA NASOGASTRIC TUBE IN A HOSPITAL OF
CASCAVEL, PARANÁ
ABSTRACT:
The administration of medicines by nutrition enteral probes is a common practice in hospital environment, and the major concerns are related to
obstructions of the catheter and incompatibilities between drugs and nutrients Objective: To analyze the solid oral standardized medicines in a
hospital from Cascavel, describing a utilization pattern of medicines in patients who use nasoenteral probe and proposing alternatives for the
changing of dosage forms in a way to contribute to the patient’s pharmacotherapy. Method: the standardization has been realized through revision of
related literatures and research on drug labels and on the Brazilian Pharmacopeia IV (2002), along publications referring to the subject, selected
according to the update and the presence of significant results. Besides the active principle of the medicine, excipients and their relations with the
cases of obstruction of the nasoenteral probe after the administration were analyzed. Results: 204 solid oral medicines were analyzed, from which
138 can be administrated safely via nasoenteral probe and 84 alternatives for the medicines uncapable of being administrated via nasoenteral probe.
Conclusion: Standardization of medicines via nasoenteral probe realization is possible, being necessary the implantation and the awareness of the
health professionals about their importance, in order to reduce costs and complications to the probed patient.
KEYWORKS: obstruction, degradation, enteral diet, ways of administration, pharmaceutical forms
1. INTRODUÇÃO

No ambiente hospitalar a diversidade de condições clínicas e a variedade de medicamentos disponíveis é muito grande, sendo necessário um controle sobre o tratamento dos pacientes para reduzir gastos e melhorar a farmacoterapia dos mesmos. No contexto das condições clínicas, os pacientes portadores de doenças crônicas são os que necessitam de mais atenção e melhor acompanhamento farmacoterapêutico. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que os males como doenças cardiovasculares, cânceres, diabetes e problemas respiratórios são as maiores causas de mortes o mundo, fazendo com que 35 milhões de pessoas percam suas vidas todos os anos. Diferentemente de outros problemas de saúde, os problemas crônicos afetam de modo semelhante os diversos grupos sociais, com pequenas variações na gravidade da doença e constituem o principal grupo que utiliza os serviços de saúde. As complicações da falta de cuidado clínico e tratamento podem levar o paciente a condições extremas da doença, sendo necessário suporte para manutenção de suas funções vitais (ALMEIDA ET AL, 2002). Algumas condições clínicas afetam a capacidade natural de ingestão de alimentos. Quando a alimentação pela boca é impossível ou insuficiente, ela é realizada através da introdução de um cateter de nutrição enteral. Trata-se de um tubo plástico fino, macio e flexível, que é introduzido pelo nariz podendo chegar até o estômago ou intestino, dependendo da situação patológica de cada paciente. Os alimentos passam a ser administrados diretamente no estômago ou intestino, chamando-se de dieta enteral, sendo planejada para fornecer todos os nutrientes necessários para recuperação e manutenção da saúde do paciente (DREYER ET AL, 2004). A Administração de medicamentos por meio de sondas de nutrição enteral constitui uma prática comum em ambiente hospitalar, sobretudo em pacientes de unidade intensiva (HOEFLER, VIDAL; 2009). As grandes 1 Professora do Curso de Farmácia. Faculdade Assis Gurgacz, 85800-000, Cascavel, Paraná, Brasil. [email protected] 2 Acadêmico do Curso de Farmácia. Faculdade Assis Gurgacz, 85800-000, Cascavel, Paraná, Brasil. [email protected] Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012 91
Yara Jamal - Elber Henrique Dumke
preocupações em relação à administração de medicamentos por essa via são as obstruções do cateter e as incompatibilidades entre nutrientes e fármacos. As incompatibilidades podem inativar o fármaco, alterar as ações farmacodinâmicas e o perfil farmacocinético, além da possibilidade de aumentar o risco de reações adversas, influenciando de modo indireto no plano farmacoterapêutico do paciente (NETO, 2005). A administração de medicamentos em pacientes com nutrição enteral permite ao estômago continuar atuando na dissolução dos medicamentos, porém a localização da sonda em porções intestinais pode alterar a dissolução do fármaco e até mesmo evitar que o efeito terapêutico seja alcançado. As interações entre princípio ativo, excipientes e nutrientes da dieta também deve ser considerado quando se espera um tratamento eficiente ao paciente. Em pacientes que apresentam dieta contínua, deve-se interromper a dieta de uma a duas horas antes da administração de medicamentos e ativá-la uma hora após, além de realizar a lavagem do cateter antes e após cada administração (NETO, 2005). A formulação a ser utilizada no tratamento via sonda enteral deve ser analisada quanto ao aspecto físico-químico do princípio ativo que geralmente não apresenta literatura suficiente, pois os laudos dos fabricantes de medicamentos não incluem esta informação. Geralmente, a maioria das drogas não pode ser administrada por esta via, sendo necessário combinar a teoria disponível com a prática clínica (THOMSON; NAYSMITH; LINDSAY, 2000). No presente trabalho analisaram-se os medicamentos sólidos orais padronizados em um hospital particular de Cascavel, descrevendo um padrão de utilização de medicamentos em pacientes que fazem uso de sonda nasoenteral e
propondo alternativas de trocas de formas farmacêuticas de modo a contribuir para a farmacoterapia do paciente.

2. MATERIAL E MÉTODO

O estudo foi realizado por meio de identificação e análise dos medicamentos sólidos orais, seguindo a padronização 2010 de medicamentos de um hospital particular da cidade de Cascavel, Paraná, que conta com 204 medicamentos. As formas farmacêuticas analisadas foram drágeas, cápsulas e comprimidos. O hospital estudado realiza procedimentos de alta complexidade, envolvendo diagnósticos, tratamentos e intervenções cirúrgicas, contando com mais de 100 leitos e UTIs adulto e neo-natal. O hospital dispõe de sofisticada tecnologia e corpo clínico qualificado, consolidando-se como um dos hospitais de referência do interior do estado do Paraná. Realizou-se revisão de literaturas relacionadas e pesquisa em bulas de medicamentos, além de publicações referentes ao tema, selecionadas segundo a atualização e presença de resultados significativos. Além do princípio ativo do medicamento, foram analisados os excipientes e a sua relação com os casos de obstrução de sonda nasoenteral após administração. Na ausência de informações em revisões selecionadas consultou-se as monografias das drogas disponíveis na Farmacopéia Brasileira IV (2002). Os fatores de complicação considerados na padronização de medicamentos via sonda nasoenteral foram: obstrução da sonda, interação droga-nutriente, risco biológico, danos ao trato gastrintestinal, alterações na farmacocinética do princípio ativo. Para os medicamentos impossibilitados de administração via sonda nasoenteral foram propostas alternativas para substituir o medicamento ou forma farmacêutica sem prejudicar a terapêutica medicamentosa do paciente. Os
medicamentos poderão ser substituídos por outras formas farmacêuticas disponíveis na farmácia do hospital, como
xaropes, soluções, suspensões e formas parenterais, considerando a posologia de cada forma farmacêutica em questão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados 204 medicamentos sólidos orais compostos por 172 medicamentos na forma de comprimidos, 19 medicamentos na forma de cápsulas e 13 medicamentos na forma de drágeas. Quanto à administração por sonda nasoenteral, 138 medicamentos podem ser triturados e administrados, e 66 medicamentos não podem ser administrados e requerem substituição ou análise do risco-benefício do tratamento do paciente. No total foram propostas 84 alternativas para troca de forma farmacêutica na administração por sonda nasoenteral. Os dados obtidos foram compilados na Tabela 1, de acordo com o nome padronizado pelo hospital (nome do medicamento ético) e contendo a ação farmacológica do princípio ativo e informações para administração e alternativas de substituição do medicamento. 92 Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012
Padronização de medicamentos sólidos orais via sonda nasoenteral em um hospital de Cascavel
Tabela 1: Administração de medicamentos sólidos orais via sonda nasoenteral, recomendações e alternativas de substituições. Administração
Nome Comercial
Princípio Ativo
Ação Farmacológica
Via Sonda
Recomendações
Princípio ativo sensível à luz. Líquido Alternativa: Administração sublingual. Princípio ativo sensível à luz e insolúvel A trituração expõe o princípio ativo, Alternativa: Administração de Adalat® gastrintestinais. A administração deve ser entérico. Evitar administração com dieta Princípio ativo solúvel em água, porém deterioração e inativação do princípio Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012 93
Yara Jamal - Elber Henrique Dumke
Princípio ativo pouco solúvel em água. Risco maior de deposição nas paredes da Absorção reduzida na presença de dietas, sendo indicada a administração uma hora antes da dieta. Administração imediata para evitar oxidação do princípio ativo. Monitorar níveis plasmáticos de lítio. (princípio ativo encontra-se na matriz). ativo é praticamente insolúvel em água. Utilizar a dieta para minimizar o efeito estimulante da cafeína sobre a secreção Formação de quelatos com constituintes da dieta, devendo ser administrado duas administrado a qualquer hora do dia, com Absorção rápida na ausência de dietas. 94 Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012
Padronização de medicamentos sólidos orais via sonda nasoenteral em um hospital de Cascavel
A dissolução pode levar alguns minutos. fotossensíveis. Administração imediata. O fabricante destaca a advertência para Princípio ativo com boa solubilidade em Pode-se diluir o conteúdo da cápsula em água e administrar. Utilizar a dieta como O princípio ativo é agressivo á mucosa A dieta não afeta a absorção e a ação do A administração de suspensão necessita líquido após trituração, obstruindo a Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012 95
Yara Jamal - Elber Henrique Dumke
Princípio ativo pouco solúvel em água. princípio da inativação pela ação do O líquido das cápsulas é imiscível em Boa solubilidade em água. Utilizar dieta As cápsulas podem ser abertas e diluídas, Utilizar a dieta para minimizar o efeito estimulante da cafeína sobre a secreção A trituração reduz os níveis plasmáticos As cápsulas podem ser abertas e diluídas, O Diclofenaco agride a mucosa gástrica. A trituração do medicamento destrói o Alternativa: Gardenal® solução oral a 96 Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012
Padronização de medicamentos sólidos orais via sonda nasoenteral em um hospital de Cascavel
revestimento entérico, não podendo ser com o pó deve ser evitado e reduzido ao Utilizar a dieta como proteção contra os comprimido apresenta absorção rápida. deve-se substituir pela forma parenteral. Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012 97
Yara Jamal - Elber Henrique Dumke
farmacêutico em capela de fluxo laminar. Efeitos colinérgicos são comuns e devem Em presença de água, o princípio ativo O medicamento é irritante se diluído de Monitorar os níveis séricos de uréia e 98 Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012
Padronização de medicamentos sólidos orais via sonda nasoenteral em um hospital de Cascavel
A acidez do estômago favorece absorção Utilizar a dieta para minimizar o efeito estimulante da cafeína sobre a secreção Princípio ativo sensível à luz e insolúvel A trituração expõe o princípio ativo, As cápsulas podem ser abertas, diluídas O princípio ativo sofre hidrólise e é fotossensível. Administração imediata. evitar manifestações gastrintestinais. Alternativa: Profenid® solução oral a Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012 99
Yara Jamal - Elber Henrique Dumke
Os efeitos gastrintestinais são comuns no sobre a trituração e dissolução em água, Administrar após a dieta para minimizar As drágeas devem ser ingeridos inteiros, e não podem ser partidos. Os excipientes causam obstrução da sonda e a trituração pode desencadear efeitos gastrintestinais O princípio ativo é sensível a umidade. hidrólise e formação dos metabólitos Monitorar a pressão arterial e observar o A trituração deve ser realizada em capela Deve-se administrar com leite ou suco de Não utilizar seringas para administração. Absorção reduzida em presença de dieta. 100 Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012
Padronização de medicamentos sólidos orais via sonda nasoenteral em um hospital de Cascavel
liberação controlada de potássio após A trituração aumenta o risco de irritação diminui a ação irritante sobre a mucosa A administração deve ser imediata para evitar deterioração e perda da ação dos A acidez estomacal é fato de importância Pacientes com diminuição na produção Utilizar a dieta para minimizar a irritação A trituração confere alta viscosidade a por via sublingual. Por via oral, os níveis plasmáticos podem não ser atingidos, e o A administração após a dieta aumenta a recomenda-se a suplementação na dieta. alta viscosidade, recomenda-se a diluição em quantidade maior de água para evitar depósito de partículas sólidas e obstrução Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012 101
Yara Jamal - Elber Henrique Dumke
por via sublingual. Por via oral, os níveis plasmáticos podem não ser atingidos, e o deglutição, substituir pela suspensão A administração de amitriptilina triturada A trituração e diluição em água pode acelerar a transformação da sultamicilina nos metabóltos ativos, e o efeito máximo hidrólise do princípio ativo, gerando o metabólito ativo antes da administração. substituição não é possível, administrar Realizar periodicamente exames laboratoriais de função hepática. Efeitos gastrintestinais são muito raros, Efeitos gastrintestinais são muito raros, 102 Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012
Padronização de medicamentos sólidos orais via sonda nasoenteral em um hospital de Cascavel
A absorção não é afetada pela dieta. que conferem alta viscosidade a solução após trituração e diluição. O principio ativo é praticamente insolúvel em água e Os grânulos podem ser diluídos em água Recomenda-se terapia de hidratação oral Utilizar dieta para minimizar os efeitos Em pacientes que fazem uso de dieta enteral contínua, a administração de medicamentos deve ter um enfoque maior com a interação com componentes da dieta ou com a relação existente entre dieta e medicamentos. No presente estudo verificou-se que: 10 medicamentos devem ser administrados após a dieta enteral; 17 medicamentos requerem a utilização da dieta como proteção para minimizar os efeitos gastrintestinais; 3 medicamentos requerem restrição na composição das dietas; 2 medicamentos necessitam de suplementação na dieta e 4 medicamentos formam quelatos com componentes da dieta, aumentando o risco de obstrução de sonda. As interações entre medicamento e nutrição enteral são as mesmas que apresentam os medicamentos e a administração por via oral. Com o intuito de minimizar ou evitar o risco de ocorrência de interações ou efeitos indesejáveis ao paciente, deve-se conhecer o histórico do mesmo e o tipo de nutrição que está recebendo. Em casos de nutrição contínua, recomenda-se parar a nutrição de 15 a 30 minutos antes da administração da medicação. Já em casos de nutrição enteral na forma de bolus, deve-se administrar a medicação uma hora antes ou duas horas após a administração da dieta. (AGUAS et.al., 2009) O alimento pode causar alterações nos efeitos farmacológicos ou na biotransformação do fármaco. A ocorrência dessas interferências progride ao longo do trato gastrointestinal, sendo desprezível ao nível de boca, garganta e esôfago, maior no estômago e intensa durante a passagem pelo intestino. De forma semelhante, os fármacos modificando a motilidade gastrintestinal, a atividade de enzimas intestinais, a flora bacteriana e formam complexos que alteram a solubilidade e absorção do princípio ativo (GUYTON, 1997). A administração de alguns medicamentos requer a presença de alimentos no estômago a fim de minimizar a ação irritativa da droga sobre a mucosa gástrica, sendo os antiinflamatórios não-esteroidais o principal exemplo de medicamentos irritantes para a mucosa. Em muitos casos, a própria ação pretendida do medicamento exige que ele seja administrado de forma seqüencial com as refeições. Tal seria o caso dos digestivos, antieméticos, antiácidos gástricos, antifiséticos e hepatoprotetores (BISSON, 2003). Medicamentos muito lipossolúveis apresentam aumento da absorção quando administrados com dietas hiperlipídicas, devido aumento da excreção de sais biliares, formação de micélios e solubilização da droga. Medicamentos que apresentam difícil absorção gastrintestinal, aumento do tempo de absorção em presença de dietas ou instabilidade em meio ácido, devem ser administrados em horários afastados das refeições para obtenção do efeito farmacológico desejado (GORZONI; TORRES; PIRES, 2010). De acordo com as características do medicamento e do princípio ativo observou-se que 17 medicamentos apresentam revestimento entérico; 8 apresentam a propriedade de liberação prolongada; 4 medicamentos são restritos a via sublingual; 8 princípios ativos são insolúveis ou imiscíveis em água, favorecendo seu depósito e obstrução da sonda; 18 medicamentos apresentam excipientes que causam obstrução da sonda, sendo que 4 deles conferem viscosidade a solução após trituração e diluição aumentado o risco de obstrução da sonda. Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012 103
Yara Jamal - Elber Henrique Dumke
De um modo geral, as formas farmacêuticas mais indicadas para administração através de cateter enteral são as preparações líquidas como soluções, suspensões, xaropes e elixires. Outras formulações como comprimidos, grânulos, cápsulas e drágeas deve-se analisar o risco de alteração no princípio ativo e deve-se considerar ainda que o risco de obstrução do cateter é maior. Desta forma, sempre que possível, recomenda-se substituir a forma sólida pro preparações líquidas manipuladas, para evitar risco de obstrução e perda da eficácia do medicamento (THOMSON; NAYSMITH; LINDSAY, 2000). A trituração de algumas formas farmacêuticas para a administração por sonda nasoenteral é uma técnica errônea e comumente praticada nas unidades de terapia intensiva. Na ausência de forma líquida para substituição, alguns autores recomendam a administração de formulações extemporâneas do princípio ativo em questão, porém há limitações sobre o tempo de processamento e estabilidade dessas soluções, e muitas vezes a freqüência de uso de determinado medicamento não torna vantajosa a manipulação e padronização de uma solução extemporânea (CATALÁN, 2001). Os comprimidos de uso sublingual são restritos para essa via. A administração oral diminui a eficácia do princípio ativo, além de sofrer alteração da biodisponibilidade e potência pelo efeito de primeira passagem no fígado. Os medicamentos de ação modificada são formas farmacêuticas produzidas por diversos procedimentos tecnológicos com o objetivo de assegurar a liberação do principio ativo da formulação sobre um período controlado e prolongado de tempo, e estes não podem ser triturados, pois ocorrerá a perda das propriedades de controle de liberação (GOMES; REIS, 2003). Os medicamentos inibidores de bomba de prótons, como omeprazol, pantoprazol e lanzoprazol, são comercializados na forma de pellets. Os pellets são sistemas multiparticulados revestidos que têm ganhado crescente importância na indústria farmacêutica devido às melhorias de biodisponibilidade e na segurança da liberação do fármaco (KRATZ; MAYORG; PETROVICK, 2001). A administração de medicamentos inibidores de bomba de prótons via sonda enteral só pode ser realizada utilizando bicarbonato de sódio como diluente. A trituração formará uma pasta que poderá ser administrada por sonda, visto que a atividade tamponante do bicarbonato evitará a inativação dos inibidores de bomba de prótons pelo pH gástrico (FONSECA, 2001). A solubilidade do fármaco constitui um fator de absorção no trato gastrintestinal, definindo o tempo e o local de melhor absorção. A hidrossolubilidade da molécula do fármaco é importante para sua dissolução nos líquidos do local de absorção, e a lipossolubilidade para atravessar a camada lipídica das membranas celulares no processo de absorção. Entre os principais fatores que afetam a solubilidade e absorção de um fármaco estão: local de absorção, interação fármaco-alimento e tempo de trânsito gastrintestinal. (BARCELLOS, 2004) Referente à alteração da farmacocinética da droga, encontraram-se 33 possíveis problemas, dos quais se destacam: 20 princípios ativos sofrem degradação após trituração, gerando metabólitos ativos ou inativos; 7 medicamentos perdem sua eficácia após trituração; 2 medicamentos tem a absorção favorecida pela acidez estomacal, recomendando-se a administração com líquido ácido; 4 medicamentos são desativados pelo suco gástrico após trituração, recomendando-se a administração com bicarbonato de sódio 8,4%. Quando um medicamento é exposto a determinados tipos de fatores químicos, inicia-se o processo de deterioração da droga ou de modificação nas propriedades farmacológicas do medicamento. A oxidação de um princípio ativo é suprimida com a utilização de antioxidante na composição do medicamento, porém estes devem ser inertes (ANSEL, 2000). O processo de hidrólise ocorre principalmente em drogas contendo ésteres ou ligações amídicas, e o grau de hidrólise depende principalmente da temperatura e do pH do meio (GUYTON, 1997). Como alternativas de redução de reações de hidrolise em medicamentos, comumente utiliza-se propilenoglicol na composição para prevenir a hidrólise, principalmente em medicamentos barbitúricos. Outra opção é a utilização de surfactantes, que aumentam a solubilidade do medicamento em pH de menor hidrólise, diminuindo o risco de hidrólise e perda da eficácia do princípio ativo (FERREIRA, 1997). A exposição do medicamento a fatores físicos também propicia a degradação dos compostos, sendo que as reações fotoquímicas são as maiores responsáveis pela degradação. As reações podem ser diminuídas utilizando-se recipientes de vidro âmbar ou embalagens de comprimidos fotoprotetoras, e a trituração aumenta o processo de degradação do princípio ativo. O uso de antioxidantes na formulação dos medicamentos constitui uma alternativa para minimizar os efeitos de degradação fotoquímica. (BRASIL, 1988) Alguns medicamentos apresentam efeitos farmacológicos rápidos, e a administração do medicamento na forma triturada aumenta a velocidade desse efeito, sendo encontradas informações de monitoramento de funções cardiovascular, respiratória e hepática; monitoração laboratorial de níveis séricos de metabólitos do princípio ativo, como lítio e metronidazol, e monitoramento de eletrólitos, uréia e creatinina. Além disso, o monitoramento de pressão arterial e de níveis glicêmicos é recomendada para 5 e 4 medicamentos, respectivamente. Em relação a reação com matérias médico-hospitalares, observou-se que a Ciclosporina interage com material da seringa e da sonda, de modo que a diluição deve ser realizada com substância ácida para minimizar a interação com os materiais, e quando possível administrar o medicamento com seringa de vidro. A administração deve ser imediata para 25 medicamentos, e 3 medicamentos requerem a manipulação em capela de fluxo laminar pelo farmacêutico, devido ao potencial mutagênico e carcinogênico dos princípios ativos. Para 4 medicamentos observou-se a importância da reidratação oral ou parenteral durante o tratamento; e para 3 medicamentos recomenda-se a administração com cautela em pacientes debilitados ou com alguma patologia cardio-respiratória. Fármacos antineoplásicos ou agentes que apresentam potencial citotóxico, carcinogênico ou teratogênico nunca devem ser triturados, pois a aspiração do pó liberado pela trituração expõe os manipuladores a esses riscos. A 104 Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012
Padronização de medicamentos sólidos orais via sonda nasoenteral em um hospital de Cascavel
alternativa continua sendo a administração do principio ativo em uso em uma forma farmacêutica líquida, porém quando esta não está disponível devem-se estabelecer procedimentos para a manipulação segura dos medicamentos. De modo geral, comprimidos citotóxicos, hormônios, antibióticos e análogos da prostaglandina só podem ser triturados em últimos casos, sendo necessário analisar o risco e o benefício ao paciente (HEYDRICH, 2006). Nos casos em que o princípio ativo sofre algum tipo de degradação química ou física, a trituração do medicamento não é recomendada, devendo-se buscar alternativas na forma líquida ou substituição por medicamento da mesma classe terapêutica, porém sem problemas de degradação (USP, 2010). A localização da sonda enteral deve ser observada antes da prescrição de medicamentos e da administração. Medicamentos que apresentam ação exclusiva no estômago não terão efeito se administrados em sondas localizadas no
intestino, como na administração de medicamentos antiácidos. Sondas que desembocam no jejuno, apresentam a
vantagem de aumentar a biodisponibilidade de fármacos com extensa metabolização ao efeito de primeira passagem
hepática, sendo vantajoso para medicamentos como betabloqueadores, opióides e nitratos. (GORZONI, TORRES,
PIRES; 2010).

4. CONCLUSÃO

A padronização de medicamentos via sonda nasoenteral é de possível realização e sua implantação será realizada através do sistema informatizado da farmácia hospitalar utilizada no estudo. Grande parte dos medicamentos analisados apresentam formas farmacêuticas que facilitam a administração por sonda e diminuem o risco de doses menores que as recomendadas para o tratamento dos pacientes; a substituição deve ser realizada e a dosagem de medicamentos na forma líquida deve ser igual a dosagem de formas sólidas. A conscientização dos profissionais da saúde sobre sua importância deste trabalho também deve ser realizado, sendo necessário o esclarecimento sobre a padronização e orientá-los de forma a contribuir ainda mais para a farmacoterapia do paciente sondado, reduzindo custos, complicações e desconfortos. REFERÊNCIAS
AGUAS, M. et. al. Administración de medicamentos por sonda nasogástrica. Rev Mult Gerontol. V.19. n.2. 2009.
ALMEIDA, ET AL. Prevalência de doenças crônicas auto-referidas e utilização de serviço de saúde, PNAD/1998,
Brasil.
Ciência & Saúde Coletiva, v. 7, n.4, p. 743-756, 2002.
ANSEL, H.C. Farmacotécnica: Formas farmacêuticas & Sistemas de liberação de fármacos. São Paulo: Premier, 2000.
BARCELLOS, N. Farmacocinética. Ouro Preto: UFOP, 2004
BISSON, M. Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica. São Paulo: Medfarma, 2003.
BRASIL. Farmacopéia Brasileira. 4ª ed. Atheneu, S. Paulo, 1988.
CATALÁN, E. et. al. Fármacos orales que no deben ser triturados. Enfermagem Intensiva, v. 12. n.3. Madri, 2001.
DREYER, ET AL. Manual de Nutrição Enteral. Unicamp, 2004.
FERREIRA, A. Guia Prático da farmácia magistral. 2ºed. Juiz de Fora: Pharmabooks, 2002. 1997.
FONSECA, S. Administração de Medicamentos através de tubo de nutrição enteral. Universidade Federal do
Ceará, 2001.
GOMES, M.; REIS, A. Ciências Farmacêuticas: uma abordagem em farmácia hospitalar. 1. ed. São Paulo: Atheneu,
2003.
GORZONI, M.; TORRES, A.; PIRES, S. Medicamentos e Sonda de Nutrição. Rev. Associação Médica Brasileira.
V.56. n.1. 2010
GUYTON, A. Tratado de Fisiologia Médica. 8 ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1997.
HEYDRICH, J. Padrão de Prescrição, Preparo e Administração de Medicamentos em Usuários de Sondas de
Nutrição Enteral Internados em um Hospital Universitário.
Porto Alegre: UFRGS, 2006.
Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012 105
Yara Jamal - Elber Henrique Dumke

HOEFLER, R.; VIDAL, J. Administração de medicamentos por sonda. Boletim Farmacoterapêutica, Brasília, n. 3 e
4, Mai/Ago, 2009.
KRATZ, C.; MAYORGA, P.; PETROVICK, P. Formas Farmacêuticas Monolíticas como Sistemas
Multiparticulados.
Caderno de Farmácia, Porto Alegre, v. 17, n. 1, p. 19-26, 2001.
LIMA, G.; NEGRINI, N. Assistência farmacêutica na administração de medicamentos via sonda: escolha da
forma farmacêutica adequada.
Einstein, p. 9-17, 2009.
NETO, J. Farmácia Hospitalar e suas interfaces com a saúde. São Paulo: RX, 2005.
OMS: World Health Organization. International drug monitoring: the role of national centers. Genova; 1972.
RANG, H.; DALE, M. Farmacologia. 3 Ed. Rio de Janeiro, GuanabaraKoogan, 1997.
REIS, N. Nutrição Clínica: Interações. Rio de Janeiro: Rubio, 2004.
SCHWEIGERT, I.; PLETSCH, M.; DALLEPIANNE, L. Interação medicamento-nutriente na prática clínica.
Revista Brasileira de Nutrição Clínica, v. 23, n. 1; p. 72-77, 2008.
THOMSON, F.; NAYSMITH, M.; LINDSAY, A. Managing drug therapy in patients receiving enteral and
parenteral nutrition.
Hospital Pharmacist, v. 7, n. 6, p. 155-164, 2000.
106 Revista Thêma et Scientia – Vol. 2, no 2, jul/dez 2012

Source: http://www.fag.edu.br/admfag/php/arquivo/1381778514.pdf

iaas-med.com

Routine Administration of Dexamethasone in a Day Surgery Protocol might decrease postoperative vomiting and pain S Borges*, P Lemos†, M Ramos†, R Maio§, AC Costa†, L Fonseca† & AM Regalado† Abstract Results: Both groups were similar in relation to age, gender, physical Background and Objectives: Postoperative vomiting (POV) remains a status (ASA), surgical

Bio076 - biografia di pietro bembo

Giuseppe Bonghi Biografia Cardinal PIETRO BEMBO Pietro Bembo, "della nobilissima Famiglia Bemba, che tra le Patrizie di questa eccelsa Repubblica è una delle più antiche, il quale per la varietà e finezza della erudizione fu uno de' più gran letterati, che abbia in qualunque tempo avuto l'Italia", nacque a Venezia il 20 maggio 1470 da Bernardo e da Elena Marcella Morosin

© 2010-2018 Modern Medicine