Metamensagens no discurso de um paciente Branca Telles Ribeiro** psiquiátrico* Diana Pinto*** Cristina Costa Lima**** Abstract
Interactional Sociolinguistics approach.
Uma versão preliminar deste trabalho foi
apresentada junto ao I Congresso de Paradigmas
de Atenção Psicossocial, realizado no Instituto
de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio
Pesquisadora do CNPq e coordenadora do Projeto
Integrado junto ao Instituto de Psiquiatria da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora
do Projeto Integrado Contexto e Coerência no
Lingüística da Universidade Federal de Juiz
Letras da Pontifícia Universidade Católica do
Integrado Contexto e Coerência no Discurso
**** Fonoaudióloga e pesquisadora junto ao Projeto
Introdução
A análise de interações face a face em uma instituição psiquiátrica
suscita uma série de indagações ao estudioso do discurso: como se dá a
construção discursiva nas interações médicos e pacientes? Quais os recursos
lingüísticos e discursivos que orientam os participantes na sinalização e na
compreensão dos processos de contextualização do discurso?
A partir da análise do discurso de situações de comunicação em
contextos naturais, o Projeto Integrado Contexto e Coerência no Discurso
Psicótico1 objetiva consolidar a interface entre a Lingüística e a Psiquiatria,
investigando as comunicações consideradas patológicas. As pesquisas
focalizam sobretudo os complexos processos de construção da coerência
constitutivos do discurso psicótico (Pinto e Ribeiro, 2001; Ribeiro, 1994a;
Ribeiro, 1997; Ribeiro e Lopes Dantas, 2001). Neste estudo, propomos
apresentar, de forma sucinta, a análise de uma entrevista psiquiátrica,
investigando especificamente as metamensagens advindas do discurso de um
paciente psiquiátrico em situação de entrevista. Veremos de que forma estas
metamensagens corroboram na construção e contextualização deste encontro
face a face, sinalizando “o que está acontecendo aqui e agora”. 1. A análise do discurso na situação interacional
A análise do discurso oral tem fomentado pesquisas sobre o uso da
língua na interação face a face. Conversas do dia a dia representam o dado
mais comum, mas vários trabalhos analisam também outros gêneros discursivos,
como, por exemplo, entrevistas, palestras, o discurso de sala de aula, encontros
de trabalho, etc. Conforme nos é indicado por Tannen (1989), os estudos
freqüentemente enfatizam ora aspectos lingüísticos, ora aspectos interacionais,
dependendo do interesse do pesquisador. Aqueles que utilizam o
conhecimento lingüístico para explicar o processo e os resultados de uma
interação integram a área de estudo intitulada sociolingüística interacional
Essa abordagem do discurso resulta inicialmente do trabalho pioneiro
do antropólogo Gregory Bateson ([1972]1998) sobre a natureza do paradoxo
na comunicação. Bateson indica que nenhuma elocução do discurso pode
ser compreendida sem fazermos uma referência à metamensagem do enquadre,
pois esta contém um conjunto de instruções para o ouvinte, da mesma forma
como uma moldura em torno de um quadro representa um conjunto de
instruções dadas ao observador indicando para onde dirigir o seu olhar.
Delimita pois figura e fundo, ruído e sinal. Delimita ou representa “a classe
ou conjunto de mensagens ou ações significativas”.
Na linguagem do dia a dia, alguns tipos de enquadres, como aqueles
que sinalizam a natureza da conversa em curso, são freqüentemente (mas
O Projeto Integrado Contexto e Coerência no Discurso Psicótico, sediado no IPUB/UFRJ, tem apoio
nem sempre) reconhecidos e representados no vocabulário (por exemplo, “ter
uma conversa séria” vs. “ficar de papo furado”). Qualquer elocução pode ter
um significado contrário ao que está explícito no discurso, caso o falante opere
em um enquadre que sinalize ironia, brincadeira, provocação, ameaça, etc.
A teoria dos enquadres capta o grau de ambivalência presente nas
comunicações, suas funções, bem como relações sutis de subordinação entre
as mensagens. Bateson propõe que a dinâmica dos enquadres segue a lógica
dos conjuntos matemáticos (de inclusão e exclusão, e premissas comuns),
sem necessariamente seguir a sua simetria. Opera de forma analógica a uma
moldura de um quadro (imagem excessivamente concreta) e/ou a uma linha
imaginária de um conjunto matemático (imagem excessivamente abstrata).
Os participantes engajados em uma situação de interação face a face estão a
todo momento atentos aos sinais que delimitam ou contextualizam os
enquadres (“isto é brincadeira?” ou “isto é uma ameaça?”) de forma a fornecer
uma resposta adequada à situação presente e melhor corroborar na construção
Coube a Gumperz ([1982]1998, 1992) e a Tannen (1986, 1993)
operacionalizarem este conceito nos estudos do discurso oral. Fortemente
influenciado pelos estudos de Goffman (1974, [1981]1998) sobre a natureza
sociológica dos enquadres, Gumperz preocupa-se em demonstrar como operam
os processos de inferência conversacional para uma compreensão adequada
das metamensagens. Uma vez que os enquadres são sinalizados de forma
indireta, forçando o ouvinte/interlocutor a recuperar o(s) significado(s)
implícito(s) do falante, Gumperz analisa detalhadamente este processo presente
em todas as comunicações face a face. Afirma que nos utilizamos de sinais –
denominados de “pistas de contextualização” – extremamente sutis. Coloca
no centro de sua análise teórica os traços lingüísticos contextuais que até
então haviam sido considerados marginais ao sistema lingüístico. Esses traços
podem ser de natureza paralingüística ou prosódica (como, por exemplo, o
ritmo acelerado da fala e a justaposição de falas do falante e seu interlocutor,
ou o tom de voz mais alto ou mais baixo, ou ainda o alongamento de sílabas
sinalizando maior ou menor ênfase, etc.); podem também ser de natureza
não-verbal (Scheflen, 1973; Kendon, 1981, 1992). Dentre os traços não-
verbais, o lugar, as configurações de postura e o distanciamento parecem
desempenhar um papel central na caracterização dos enquadres (Erickson e
Schultz, 1977; Kendon 1992). Streek (1984) afirma que “os participantes em
interações face a face apresentam configurações (de postura) e as mantêm
para enquadrar fases de atividades conjuntas. Mudanças na atividade, no
tópico do discurso, ou na distribuição dos direitos e deveres do falante ou
do ouvinte são freqüentemente marcadas por nítidas reorientações de postura
Tannen (1986, 1993) e Tannen & Wallat ([1993]1998) apontam para
os aspectos dinâmicos dos enquadres. Como os participantes encontram-se
continuamente inseridos em um processo de mudança e de recontextualização,
assinalam que esse processo faz da interação algo extremamente complexo.
Por um lado, diferentes enquadres impõem diferentes obrigações aos
participantes; por outro lado, a dinâmica dos enquadres se dá de forma indireta,
através de metamensagens, forçando um trabalho inferencial bastante complexo
2. A construção da referência na entrevista psiquiátrica
Ao analisarmos os processos de contextualização no discurso – a
dinâmica do enquadres – também analisamos como se dá a construção da
referência pelos participantes no encontro clínico. O discurso médico/paciente
é controlado pelo médico, que ao fazer uma pergunta solicita que o paciente
responda a determinados referentes (Mishler, 1984; Frankel, 1984; West,
1984, entre outros). Cabe também ao médico o controle sobre o
desenvolvimento da referência, pois cada nova pergunta corrobora e molda o
referente no discurso. No entanto, a referenciação no discurso não se restringe
aos tópicos introduzidos pelo médico, pois o tópico discursivo é em parte
constituído pelos processos utilizados pelos participantes ao demonstrar
compreensão e aceitação do referente, e ao ajustar a sua fala com relação à
fala anterior (ou a falas anteriores).
Portanto, para adequar-se ao contexto da entrevista, cabe ao paciente
identificar os referentes introduzidos pelo médico e fornecer uma resposta
considerada adequada – uma resposta que ratifique o tópico do médico ou
que estabeleça algum processo de negociação. As pesquisas indicam que não
cabe ao paciente introduzir tópicos próprios, vinculados a conhecimentos
pessoais (Mishler, 1984; Ribeiro, 1994; Pinto, 2000). Ele poderá reciclar um
tópico anteriormente introduzido pelo médico ou expandir um tópico ao
introduzir subtópicos. Assim, na situação de entrevista, o paciente dá
continuidade tópica ao discurso (Ribeiro, 1994; Pinto, 2000). É importante
assinalar que definimos tópico como “aquilo de que se fala” – o referente no
discurso, codificado na língua sob diferentes formas e funções lingüísticas, e
que opera em diferentes níveis do discurso.
No discurso psicótico, inúmeros são os processos de desorganização
tópica (Pinto, 2000). Especificamente com relação à introdução de referentes,
ambos médico e paciente competem trazendo agendas motivadas por expectativas
quanto à situação em curso (a entrevista psiquiátrica vs. o encontro pessoal). Essa
competição freqüentemente resulta na construção de dois discursos dissociados,
tanto por parte do paciente como por parte do médico (Ribeiro, 1994a). 3. Contextualização dos participantes
A entrevista médico/paciente em análise foi realizada ao longo da
oitava internação do paciente Luís Cavalcanti3 no Instituto de Psiquiatria da
O artigo Frame Analysis (Ribeiro e Hoyle), a ser publicado na revista Palavra vol 8, editada pelo
Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,apresenta uma descrição
do estado da arte das pesquisas em curso nos Estados Unidos na área da Sociolinguística Interacional.
Os nomes dos participantes foram alterados visando à preservação da identidade dos mesmos.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. O IPUB-UFRJ tem por objetivo
desenvolver um trabalho integrado nas áreas de ensino, pesquisa e assistência
no campo da Saúde Mental. No que tange à estrutura organizacional hospitalar,
os pacientes que necessitam de internação são distribuídos por várias equipes
clínicas multidisciplinares (residentes em psiquiatria, clínicos, enfermeiros,
psicólogos, terapeutas e estagiários de diferentes áreas), chefiadas por
psiquiatras experientes. Neste contexto institucional, as entrevistas com
diferentes profissionais constituem uma prática constante na rotina do paciente,
sendo, com freqüência, registradas em vídeo para fins didáticos. Os dados,
gravados em vídeo e transcritos segundo Ribeiro (1994a)4, foram coletados
para fins de pesquisa para o Projeto Integrado.
Segundo as informações que constam no prontuário5 coletadas no
ano de 1996, Luís tem 31 anos, é agente administrativo, com curso superior
incompleto, de religião espírita e sofre de esquizofrenia hebefrênica.
A esquizofrenia é o mais grave transtorno mental de que trata a psiquiatria,
acometendo de 1 a 1.5% da população mundial e incidindo em diferentes
culturas e em ambos os sexos igualmente (Nunes et alli, 1996). Sua
sintomatologia engloba uma vasta gama de comportamentos lingüístico-
discursivos, ressaltando-se “as intercepções ou interpolações no modo de
pensar, resultando em discurso incoerente” (p. cit. p. 94). Pelo alto grau de
comprometimento afetivo e cognitivo decorrente desta doença, os pacientes
esquizofrênicos muitas vezes retornam às enfermarias da instituição. A primeira
das 8 internações de Luís ocorreu em 1987, após a qual iniciou tratamento
no ambulatório e no hospital-dia do IPUB, freqüentando, concomitantemente,
Ainda de acordo com essas informações, Luís residia com sua mãe e
tinha irmãos portadores de esquizofrenia. As alucinações auditivas, segundo
as quais o paciente ouvia vozes imperativas dizendo “Eu odeio você, quero
que você se mate”, foram descritas por Luís como constantes à época da
internação em questão. Consta do prontuário também referência à “perda de
À época da gravação desta entrevista, Dr. Mauro Cardozo chefiava
um das equipes clínicas multidisciplinares, porém não era o médico responsável
4. A análise da entrevista
De acordo com Ribeiro (1994a), a análise da construção discursiva
entre médico e paciente em situação de entrevista pode ser realizada seguindo
dois princípios organizadores do discurso que se encontram inter-
relacionados. O primeiro deles diz respeito à análise de tópicos introduzidos,
desenvolvidos e ratificados pelos participantes. Neste sentido, examinar-se-ia
4 Sobre o complexo processo de transcrição de dados orais, ver Ribeiro (1994b).
5 Em função dos objetivos do texto, foram selecionadas apenas as informações do prontuário
consideradas relevantes para a análise dos dados.
a construção conjunta dos referentes, o que pressupõe um processo de
negociação mútuo acerca de sobre o que falar e como falar. Aqui estariam
incluídas noções a respeito de como introduzir, desenvolver, interromper e
mudar de tópico, bem como os processos inferenciais subjacentes ao discurso
Já o segundo princípio organizador, a noção de enquadre ancora a
análise dos múltiplos contextos de interlocução que emergem no discurso
tanto do médico como do paciente. Esta análise evidencia segmentos de
discurso coerentes na fala do psicótico, na qual há momentos na troca discursiva
em que os contextos comunicativos adquirem sentido.
O presente estudo privilegiará a análise dos múltiplos enquadres
presentes na dinâmica da entrevista, observando as transformações contextuais
sinalizadas sistematicamente por um conjunto de pistas de contextualização
(Gumperz, [1982]1998). Entre o elenco de traços lingüístico-discursivos que
orientam a discussão dos enquadres, destacamos as pistas de contextualização
de natureza não verbal, sobretudo a postura e a movimentação das mãos, e
aquelas de natureza prosódica, a exemplo dos contornos entonacionais, e
também de natureza paralinguística, como ritmo de fala.
Vejamos então curtos segmentos ilustrativos de cada um dos quatro
enquadres que constituem a entrevista.
O enquadre paciente caracteriza o encontro clínico, no qual o paciente
responde às perguntas propostas pelo médico, em geral de forma breve, com
respostas curtas, ratificando o tópico proposto por este, sem ampliá-lo.
Encontra-se assim em consonância com a agenda do médico cumprindo
eficazmente o papel social e discursivo de paciente (Ribeiro, 1994a).
1. Dr. Mauro: primeiro eu queria que você dissesse o seu nome.
3. Dr. Mauro: hum-hum. Luís, cê tá com quantos anos?
No que concerne aos aspectos não-verbais, observou-se que o paciente
sistematicamente apoia uma das mãos no quadril ou em sua perna, enquanto
mantém o outro braço apoiado na carteira em que se encontra. Tal postura
contrasta com o que será descrito a seguir. 4.2 O enquadre cidadão
Este enquadre é caracterizado fundamentalmente pela temática
apresentada. Tópicos tais como o valor do trabalho, aposentadoria, e falta de
honestidade no país, o Brasil de Jango, as reformas de base e a política de
Leonel Brizola, são aqui freqüentes.
1. Dr. Mauro: e você trabalha fazendo o que no-INSS?
[balança as mãos fechadas na altura da cabeça
éeu-porque eu preciso voltar a trabalhar, éeu quero
trabalhar para ser útil ao meu país.
O tom de voz inflamado e ascendente, conjugado com os aspectos
não-verbais – mãos fechadas na altura da cabeça em movimentos frenéticos
ora para cima e para baixo, ora para frente e para trás – complementam a
Parte do que caracteriza a complexidade das informações sinalizadas
na interação deriva do processo dinâmico presente no jogo dos enquadres.
A entrevista em análise apresenta alguns momentos bastante ilustrativos da
natureza dinâmica deste conceito. Assim, dentro do enquadre descrito
inicialmente, encontraremos um sub-enquadre cujo tópico é constituído pelo
ato de fala (Austin, 1962) “reclamação”, dirigida ao médico responsável pelo
seu caso, qualificado pelo paciente como “desligado” e “insensível”.
1. Dr.Mauro: e você tem tido oportunidade de desabafar
3. Dr.Mauro: por que? mas você tem um médico aqui que
eu tenho mas ele não liga a mínima pra mim.
5. Dr.Mauro: mas você conversa essas coisas com o médico, que você
eu desabafo pouco porque eu sou pobre. eu tenho cinco
Poderíamos considerar portanto que este sub-enquadre “paciente
questionador” constitui-se nas bordas dos outros dois enquadres maiores, o
do paciente e o do cidadão. É na confluência de ambos que ele surge, na
medida em que deriva do alinhamento do paciente enquanto cidadão (Goffman,
[1981]1998), que reclama seus direitos e clama por um tratamento que
considere digno, calcado na escuta de suas queixas. 4.3 O enquadre espírita
Encontramos aqui uma gama de referentes que evocam o espiritismo:
“magos negros com as mãos decepadas jorrando sangue”, “uma luz dourada
que descobri”, além de vozes de um espírito que lhe diziam “se mata, se mata,
se mata”. Ao longo da troca discursiva com o médico entrevistador, o paciente
dá voz a figuras conhecidas do espiritismo tais como “a instituição Joana de
Angelis”, “André Luís”, e “o conde de Saint-Germain”. No segmento abaixo,
Luís apresenta sua versão para o início de seu problema.
tudo começou quando euuuu tive um sonho,
jorrando sangue . e aí eu me entrevei e fui acompanhado
por um espírito, que com ódio de mim dizia pra eu me
[os punhos cerrados, balançando freneticamente as mãos
O segmento acima, além de ilustrar o tópico aqui preponderante,
revela um traço prosódico freqüente neste contexto. A voz em staccato do
paciente é sempre empregada para representar as diferentes entidades que
ele personifica ao longo da interação. Resulta daí uma riqueza de
alinhamentos (Goffman, [1981]1998), um enquadre que identifica a relação
entre os participantes da troca discursiva e entre aqueles introduzidos no
discurso pelo paciente. Este, ao longo da interação, personifica as personagens
que introduz, assumindo as características delas. Na linha 7, por exemplo,
relata o conteúdo das vozes utilizando um ritmo staccato, conferindo-lhe,
A linguagem não verbal de Luís, neste enquadre espírita, consiste em
fechar as mãos, levá-las à altura da cabeça e, num movimento perseverante,
balançá-las freneticamente para frente e para trás. E ao mencionar o conde
de Saint-Germain, levanta-se da cadeira, coloca os dois braços para trás,
mantém o corpo ereto e fixa o olhar à frente, permanecendo, segundo suas
palavras, “na pose da sabedoria”. 4.3.1 “Eu não sou o que eu sou”
No segmento abaixo, o médico entrevistador questiona a crença de Luís,
anteriormente mencionada, de que seu caso seria de esquizofrenia, suscitando
um momento paradigmático da transfiguração a qual o paciente dá vazão:
1. Dr. Mauro: mas o seu caso é de esquizofrenia?
eu acredito que o meu caso seja aparentemente um caso
porque a minha inteligência, eu fiquei burro.
eu fiquei burro e estou muito insensível, para chorar é
/a mão de Benjamim Franklin treme . e a minha voz
treme./[olha para o médico e baixa o olhar]
11. Dr. Mauro:e você atribui isso a que Luís? .
No trecho acima, mais uma vez observamos o uso sistemático de um
conjunto de pistas de contextualização. A voz em tom baixo, que inicia trêmula
e que se torna também chorosa, é o contraponto verbal da mão trêmula que
é ao mesmo tempo do paciente e de Benjamim Franklin. A sensação de perda
de identidade é assim retratada em todo o seu vigor e enunciada explicitamente
em ritmo desacelerado na linha 12: “eu não sou o que eu sou”. É interessante
sublinhar que, neste instante, Luís volta seu olhar para o médico, como se
4.4 O enquadre professor/mestre
Este é o enquadre mais freqüente ao longo da entrevista. Caracteriza-
se fundamentalmente pela postura daquele que detém um saber enciclopédico,
sobre diferentes áreas do conhecimento e que também possui conhecimentos
razoavelmente assentados acerca de seu diagnóstico e do mal que o acomete.
Vejamos inicialmente como o paciente evoca este primeiro tipo de saber.
Nas palavras de Luís, ele possui “uma cultura de autodidatismo”, “uma
cultura de almanaque no estilo de Benjamin Franklin, uma cultura filosófica,
científica e religiosa acima de tudo”. No decorrer da entrevista, Luís menciona
mais de 15 nomes emblemáticos de diferentes campos de investigação humana,
incluindo a religião, passando pela política, pela história e pela psicologia.
É interessante observar que as citações destes representantes das diversas
áreas do conhecimento são geralmente acompanhadas de uma seleção lexical
referente às áreas em questão. A “dialética” de Platão, a “energia condensada”
de Einstein, o “simbolismo” de Jung, os “filmes de aventura” de Sylvester Stallone
e o “sindacta obsoleto” em Saddam Hussein são algumas das figuras que
povoam seu discurso, sempre expressas num tom professoral. Ainda neste
enquadre, observamos o médico assumindo exclusivamente o alinhamento
de ouvinte de um relato e fornecendo apenas sinais de retroalimentação.
1. Dr. Mauro: e você tem algum interesse, alguma atividade?
eu tenho interesse em ler, mas eu tô lendo aos poucos,
o último livro que eu tô relendo agora, é sabedoria interna
a teosofia procura encontrar o lado esotérico das religiões,
e esse lado esotérico das religiões já existe desde
Alemurer que não existia na Austrália como pensam,
Alemurer existiu na dinastia Furisi, existem relatos, como
Toinboe provou na obra Reconsiderations . existem
relatos . que mostram . que a-a China é-tem a cultura
No repertório de conhecimentos do paciente, em sua “cultura
relativamente boa” no dizer de Luís, abundam as referências acerca do mal
que o acomete. O uso de um léxico específico, contendo itens tais como
“tendinite patelar bilateral” ou “o nervo patelo”, é recorrente.
o meu-o meu diagnóstico é tendinite patelar bilateral.
é, é de físico, da minha agitação.
É também de seu conhecimento a etiologia de seu problema mental e
as conseqüências devastadoras da doença sobre sua cultura.
a minha sensibilidade estética praticamente que sumiu,
porque o meu raciocínio concreto de acordo com a escola
de Piaget, foi destruído por um chute que meu pai deu
na barriga da minha mãe, e eu tenho lesão no lobo
frontal, que a tomografia computadorizada pode provar.
2. Dr.Mauro: mas por que que a lesão seria logo no lobo frontal?
Suas observações no campo da medicina também têm como referente
o tipo de tratamento que lhe é mais adequado.
1. Dr.Mauro: e como é que você acha que a medicina pode ajudar
=olha . essas internações na minha opinião foram
=por uma questão muito simples. eu posso ser controlado
injetável, . desde que eu faça fisioterapia.
A análise do enquadre professor/mestre permite-nos observar que
Luís, ao tratar de temas que em geral são de domínio exclusivo da figura do
psiquiatra (diagnóstico e medicação), com relativa propriedade, alinha-se
com o entrevistador, resultando daí uma relação mais simétrica. Tal fato
torna-se mais evidente ao atentarmos para algumas pistas de contextualização.
No segmento acima, por exemplo, o emprego de um registro formal – o
vocábulo “perfunctórias” – é a princípio inadequado para aquele tipo de
encontro. Ao utilizá-lo, entretanto, o paciente parece requerer para si o
direito de ditar os rumos da interação. Além disso, Luís faz uso de expressões
tais como “na minha opinião” (linha 3) e “por uma questão muito simples”
(linha 5) que, por um lado, reiteram a formalidade projetada discursivamente
e, por outro, sublinham o caráter de agentividade, autoridade e domínio
Algumas marcas paralingüísticas são encontradas freqüentemente
neste enquadre, diferentemente dos demais analisados até então. O enga-
tamento das falas (indicado pelo sinal de =) nas linhas 2/3, 3/4 e 4/5, no
segmento acima, sinaliza que ambos os participantes estão “de mãos dadas”
na troca discursiva e atentos à contribuição do outro, na medida em que não
há pausas perceptíveis entre suas elocuções (Tannen, 1984). Observou-se,
também, um maior número de pausas intraturnos e a presença de falas em
ritmo desacelerado ([dec]), como no exemplo a seguir.
a lembrança de vidas passadas . é uma das provas da
reencarnação, prova científica. existem outras provas, a
terapia das vidas passadas é outra prova de reencarnação
porque pode curar casos de esquizofrenia e eu não tenho
dinheiro para fazer terapia de vidas passadas.
No que se refere à linguagem não verbal, Luís ora gesticula com
as mãos em movimentos circulares, ora pousa a mão esquerda no joelho
enquanto a palma da mão direita é projetada para frente, como se este
gesto representasse sua atitude de mestre em oferecer o conhecimento a
seu interlocutor. No segmento abaixo, observa-se mais um exemplo do
tipo de enquadre em questão cuja sinalização não verbal enfatiza a natureza
simétrica da relação entre médico/entrevistador e paciente/entrevistado.
1. Dr. Mauro: por que que você não-não voltou a trabalhar?
eu vou lhe explicar. eu tenho um diagnóstico-
8. Dr. Mauro: mas se você não sentar não dá pra gente gravar
o meu-o meu diagnóstico é tendinite patelar bilateral.
[médico olha para os joelhos do paciente]
É curioso observar a inversão momentânea de papéis sociais e
discursivos que ocorre neste segmento. Na linha 5 (“eu vou lhe explicar”),
Luís toma para si a tarefa de explicar ao médico o seu diagnóstico e, para
fazê-lo adequadamente, levanta-se do lugar que lhe fora previamente
designado. E, apesar do pedido do médico para que retomasse sua posição
(linha 8), permanece de pé, provoca uma sobreposição de falas na linha
9 (indicado pelo sinal [ ), e introduz um marcador discursivo (“olha
só”), cuja função é manter o turno que acabara de tomar. Seu interlocutor
não só o ratifica verbalmente (linha 10) como também dirige seu olhar
para as mãos do paciente. Neste momento Luís está de posse do
controle da interação, guiando os passos do médico segundo sua
4.4.1 “Todo paciente é um mestre . também”
Como vimos anteriormente, a natureza dos enquadres é essencialmente
dinâmica. Os enquadres aqui analisados constantemente concorrem, sendo
sinalizados pelas diferentes pistas de contextualização utilizadas pelos
participantes. Observamos também, no caso do sub-enquadre paciente/cidadão,
que seu surgimento resulta da confluência, principalmente temática, das
metamensagens subjacentes a ambos. No final da entrevista, deparamo-nos
com outro sub-enquadre, ao qual denominamos paciente/mestre.
1. Dr. Mauro: tem mais alguma coisa que você gostaria de dizer por
que você acha importante a gente deixar registrado?=
=olha, o que eu disse ao meu médico, . foi o seguinte
todo paciente tem algo a ensinar ao seu médico,
eu aprendi isso na autobiografia de Jung.
todo paciente é um mestre . também. mas como meu-
meu médico não teve a humildade de me escutar,
eu estou aqui preeso não sei por quanto tempo.
10. Dr. Mauro: que que você gostaria de ensinar pra ele?.
12. Dr. Mauro:tá bom. então é isso aí. obrigado pela-pela conversa,
Neste segmento, encontramos várias das pistas de contextualização
apontadas acima como características do tipo de enquadre professor/mestre:
as pausas intraturnos (linhas 4 e 8), a fala engatada (linhas 3/4), o ritmo
lento (linhas 4 e 5) e o marcador discursivo “olha”, na linha 4, direcionando
a atenção do interlocutor. E se a voz do mestre, “aquele que sabe e faz; faz
porque sabe, sabe fazer” (Figueiredo, 1996: 111) enuncia o seu conhecimento
oriundo da “autobiografia de Jung”, o paciente Luís almeja compartilhar com
o médico responsável pelo seu caso, a maestria, (linha 8: “todo paciente é um
mestre. também”). E este saber supostamente compartilhado tem como objeto
o sujeito doente, conhecedor de sua doença e de seu diagnóstico. Considerações finais
A análise dos enquadres observados nesta entrevista médico-paciente
nos permite afirmar que, embora o discurso dito patológico em princípio viole
normas – sejam estas de caráter social ou lingüístico – não ficamos impedidos
de conferir-lhe um status de coerência. Tal coerência emerge justamente da
análise dos tópicos e enquadres da fala do paciente, possibilitando que seja
delineada uma temática “com sentido”, caracterizando, num nível de macro-
interpretação, a existência de metamensagens.
É deste modo que, num segundo nível de análise da entrevista, o nível
temático, podemos enumerar os três temas que permeiam os quatro tipos de
enquadre e os tópicos neles introduzidos. Primeiramente, temos a fragmentação do eu, tema desdobrado nos enquadres em que o paciente se coloca na
entrevista numa das seguintes posições:
a) Falando de si: o paciente tem a possibilidade de fornecer dados
que o identificam, tais como nome, idade, acontecimentos familiares
do passado, hipóteses quanto à sua doença, reconhecimento de
algumas dificuldades (espacial, cálculo, concentração), comentários
sobre as atividades que exercia e um relato do desenvolvimento de
b) Falando de sua “cultura de almanaque”: nestes momentos ele até se
identifica com personalidades que conhece através de suas leituras,
faz citações e inclusive chega a revestir sua fala de um tom empolado;
c) Falando a partir de sua vivência do espiritismo: sua experiência de
mediunidade possibilita que lide com a experiência de se sentir
vários em um de uma forma particular. O reconhecimento desta
perspectiva no tema da fragmentação é primordial para que muitas
de suas falas sejam significativas no decorrer da entrevista.
Segundo, temos o tema da busca de identidade. Mesmo transitando
pelos personagens que caracterizam a fragmentação de sua estrutura psíquica,
podemos perceber que o discurso do paciente reflete seu desejo e sua luta
para sair do papel de paciente psiquiátrico, desejando ser escutado enquanto
sujeito. A afirmação “eu não sou o que eu sou”, dita em tom de lamento,
evidencia de forma bastante contundente sua dor.
Terceiro, o tema da necessidade de transcender o sofrimento através
do pedido de ajuda que é reiterado de várias formas. Aparece tanto embutido
em suas queixas quanto enunciado com clareza. O tema do pedido de ajuda
se faz presente, tendo em vista o desejo de que algo seja feito para minorar
o sofrimento de saber-se e sentir-se múltiplo. Vejamos alguns exemplos:
“quando fi-fico perto de uma pessoa que posso desabafar, a minha te- a
minha tensão acaba”, “eu desabafo pouco porque eu sou pobre eu tenho
cinco minutos para falar com ele [o médico]”, “o meu médico é um desligado
. acho até que ele pode insurtar também”
Concluindo a análise, diríamos que a fala do paciente se torna
significativa, portadora de metamensagens, quando interpretada a partir deste
instrumental de análise do discurso. A coerência que encontramos nesta
entrevista médico-paciente talvez não corresponda à expectativa de coerência
que se tem normalmente no trato social, mas certamente o seu entendimento
abrirá uma brecha através da qual será possível um contato mais eficaz e
enriquecedor para o paciente. Sendo a linguagem uma marca de construção
da subjetividade e a interlocução o lugar privilegiado para a reconstrução do
processo verbal em condições patológicas, quanto maior for o entendimento
que o profissional que atua em Saúde Mental possa ter das metamensagens
contidas na fala de um paciente, mais se aproximará dele, ao acolher as
demandas que se associam aos enquadres e tópicos, que, de outro modo,
podem passar despercebidas. Ressalta-se assim a importância da análise do
discurso na vertente da sociolingüística interacional para uma escuta na área
clínica e terapêutica, que possibilite ver por trás do diagnóstico a pessoa que
Considerando que a prática em Saúde Mental tem por objetivo garantir
o direito à cidadania, proporcionando ao paciente formas de integração em
sua comunidade, a proposta do projeto de pesquisa abre espaço para uma
escuta que valoriza seu discurso, resgatando-lhe o lugar de sujeito autor de
si mesmo. Saúde implica em participação. Linguagem e trabalho são formas de
participar, de se inscrever no mundo. Convenção para a transcrição
pausa observada, quebra no ritmo da fala com menos de
pausa de meio segundo, medida com cronômetro
números entre parênteses indicam a duração da pausa
acima de um segundo durante a fala, medida com
descida leve sinalizando final de elocução
subida rápida sinalizando uma interrogação
subida leve (sinalizando que mais fala virá)
alongamento de vogal (um maior número de vogais
duas elocuções relacionadas por = indicam que não há
fala justaposta; duas pessoas falando ao mesmo tempo
várias características da fala (como voz rouca) ou tempo
fala desacelerada (na linha acima do enunciado)
[não verbal] descrição dos movimentos não verbais (mudança de
postura e orientação) indicada uma linha abaixo do
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