A obra O mulato não só inaugura o Naturalismo no Brasil,
como é uma das principais expressões dessa corrente na literatura brasileira. Sua marca é a análise da sociedade e dos tipos huma-
nos a partir de uma visão orgânica, pessimista, do próprio com-portamento das pessoas reduzido a seus instintos mais básicos. Neste caso, trata também da questão racial, da discriminação e da hipocrisia que rondava a sociedade da época, fato que rendeu muitas críticas a Aluísio Azevedo, vindas de certos grupos que defendiam a discriminação das raças. Este suplemento de atividades pretende compreender esses e ou-tros aspectos da obra de Aluísio Azevedo. Desenvolva-os depois da leitura do livro, dos Diários de um Clássico, da Contextualiza-ção Histórica e da Entrevista Imaginária. Bom trabalho!
ão pode ser vendido separadamente. SARAIV
Este suplemento de atividades é parte integrante da obra N
1. Qual o núcleo do enredo de O mulato?
Esta obra de Aluísio Azevedo, que inaugura o Naturalismo no País, trata da vinda de Raimundo de Portugal ao Brasil. Ele é órfão de pai, um ex-comerciante português. Depois de anos de cultivo europeu, onde estudara Direito, Raimundo volta ao Brasil com a intenção de vender as terras que seu pai lhe deixara no Maranhão e se estabele-cer no Rio de Janeiro. Instala-se na casa de Manuel Pescada, seu tio paterno e irmão de José Pedro, e se apaixona por sua filha, Ana Rosa. É quando Pescada lhe revela que Raimundo é filho bastardo de seu pai com a negra Domingas, sua ex-escrava, que se tornara uma velha louca e ainda habita os domínios da fazenda. Por isso, em razão de sua origem negra, Pescada não pode lhe conceder a mão de sua filha.
O tema central da obra é o racismo, mas em torno dele gravitam outros, como a hipocrisia, as representações sociais e os jogos de interesse.
3. Qual é a singularidade de O mulato no que se refere à
As respostas podem variar, mas espera-se que os alunos enfatizem o nascimento do Naturalismo e suas diferenças em relação ao Realismo. Espera-se também que mencionem a maneira crua como Aluísio Azevedo aborda seus personagens, assim como o seu interesse pela teoria sobre a superioridade e inferioridade das raças, que então se esboçava e servia de pretexto para a discriminação.
4. Qual o aspecto mais forte do Naturalismo presente em
Cabe ao aluno desenvolver alguns tópicos importantes dessa corrente estética. Segundo o professor e crítico Alfredo Bosi, em O cortiço, uma das mais importantes obras de Aluísio Azevedo, as “cenas coletivas e tipos psicologicamente primários fazem, no conjunto, do cortiço
o personagem mais convincente do nosso romance naturalista”. O romancista teria escrito o mais puro romance naturalista, no qual o homem é um fruto de seu meio. O ambiente é que determina as es-colhas, portanto, é o principal agente. Porém, essa pesquisa de tipos humanos e caracteres sociais já tinha começado em O mulato. Então, seria interessante que o aluno, em sua resposta, gravitasse em torno desses aspectos centrais: descrição de organismos sociais, determina-ção do meio, pressupostos científicos.
A NARRATIVA 5. Enumere algumas das principais descobertas feitas por Rai-
Há várias respostas possíveis; verificar pertinência. Dentre as op-ções, pode ser destacado o fato de que Raimundo compreende que Quitéria Inocência de Freitas Santiago, esposa de seu pai, José Pedro da Silva, vivia enciumada com as relações que o esposo mantinha com a escrava Domingas. Assim, Raimundo acaba descobrindo que 3é filho de José Pedro com Domingas. Quitéria ordena então que a açoitem e queimem o seu órgão genital.
6. Qual é o “pacto” travado entre o padre Diogo e José Pedro?
José Pedro foge com o filho e, ao retornar, pensando que Quitéria ha-via se ocultado, flagra-a em adultério com o padre Diogo. No impul-so, mata Quitéria e acabam ambos, José Pedro e Diogo, testemunhas mútuas e, portanto, reféns um do outro, em um pacto de assassinato e de adultério.
7. Por que Pescada recusa-se conceder a mão de Ana Rosa
Devido ao fato de Raimundo ser filho bastardo e negro. Raimundo percebe então que Pescada o estivera adulando apenas por interesse em obter alguma vantagem na venda das terras.
8. Qual é o final surpreendente da obra? Que reflexões pode-
Há dois elementos irônicos (e portanto críticos), que são os mais im-portantes do final: o casamento de Ana Rosa com Dias e a promoção do padre Diogo ao posto de cônego. Tendo em vista que Dias fora o assassino de Raimundo, da mesma forma que o padre arquitetara o assassinato de José Pedro em uma tocaia, a narrativa de Aluísio parece nos conduzir a uma visão extremamente pessimista, na qual os malfeitores triunfam e acabam por ser conduzidos ao sucesso por meio de seus próprios crimes. Em suma, é marcadamente uma visão de escritor naturalista.
O NARRADOR 9. Quais as principais características destacadas do meio e dos
personagens pelo narrador de O mulato?
O narrador destaca o lado psicológico um tanto perverso e sem-pre hipócrita das personagens. O traço detalhista e as cenas tomadas em bloco também são uma característica, não só desta obra, mas da própria vertente naturalista. Trata-se assim de demonstrar ao leitor os ajuntamentos grupais, os valores da coletividade, as massas humanas e as máscaras, mais do que o indivíduo isoladamente.
10. Qual o efeito gerado na obra em razão desse aspecto
O efeito é uma sensação de pessimismo diante das arbitrariedades do destino dos personagens. Em resumo, é como se Raimundo fosse o herói, pois apresenta características que nenhum outro possui e sua rota é direta, com um objetivo. Os demais personagens parecem exis-tir apenas em função uns dos outros, corrompendo-se e anulando-se mutuamente.
PERSONAGENS 11. Relacione a primeira coluna à segunda, unindo as per-
sonagens às suas características principais. Se for preciso, releia trechos da obra ou recorra aos Diários de um Clássico. 1. Raimundo
a) Irmão de José Pedro, uma espé-cie de padrasto de Raimundo, mas que está interessado em tirar pro-veito da venda das terras que o pai de Raimundo deixou para o filho.
2. Manuel Pescada
b) Caixeiro e um dos funcionários de Pescada. Também é forte pre-tendente de sua filha.
3. Ana Rosa
c) Órfão de pai, um ex-comerciante português, também está distante da 5
mãe. Depois de anos de cultivo eu-ropeu, onde estudara Direito, volta ao Brasil com a intenção de vender as terras que seu pai lhe deixara no Maranhão e se estabelecer no Rio de Janeiro. Passa pelo Rio e depois viaja até São Luís, para visitar seu tio e realizar seu projeto.
d) Padre que manteve um caso com uma mulher casada e acabou sendo cúmplice do assassinato da mesma. Com a chegada de Rai-mundo, teme que seu crime seja revelado, pois o rapaz é o elo com seu passado obscuro.
e) Personagem de cunho român-tico, que sonha com um casa-
mento idealizado e que por isso mesmo padece das vicissitudes dessas aspirações, pois, como para todo bom escritor realista − e, sobretudo, para o naturalista −, o amor não basta. Mais que isso, às vezes ele é o ingrediente me-nos importante no sucesso. Para demonstrar essa tese, ela acaba se casando justamente com aquele que matara o seu amado.
6. Maria Bárbara
f) Mãe biológica de Raimundo, ex-escrava de seu pai, que a mantinha como amante. Quando a esposa descobre, manda fazer barbarida-des com ela. Tornou-se uma velha louca, que habita os domínios da fazenda herdada por Raimundo. 7. Domingas
g) Mulher racista, que maltrata os es-cravos e que, após a morte da filha, vai morar com o genro Pescada.
8. Quitéria Inocência de Freitas Santiago
gido, tentando proteger o filho bastardo. Acaba assassinado em uma tocaia.
9. José Pedro da Silva
i) Esposa do pai de Raimundo, que tinha grande ódio por ter sido tra-ída pelo marido com uma escrava, mas que é flagrada em adultério e morta pelo próprio esposo.
Respostas: 1-c; 2-a; 3-e; 4-b; 5-d; 6-; 7-f; 8-i; 9-h
A seguir, responda a algumas questões relacionadas à seção Con- textualização Histórica, encontrada na parte final do livro.
Leia a seguir o texto do crítico e historiador José Veríssimo e res-ponda às perguntas.
É que, como o Romantismo, o Naturalismo foi sobretudo uma tendência geral. Como aquele fora uma reação contra o Classi-cismo, foi o Naturalismo um levante contra o Romantismo. Ca-racteriza-o e distingue-o a sua inspiração diversa do Romantis-mo, mormente a sua inspiração muito menos espiritualista que a deste e consequentemente a sua vontade de proceder de ma-neira diferente. Revela-se este íntimo sentimento e propósito no sacrifício ou diminuição da personalidade do autor, exuberante no Romantismo; numa observação mais rigorosa e até presumi-velmente inspirada em métodos científicos; numa representação mais fiel do observado, reduzindo ao mínimo a idealização ro- 7
manesca; no menosprezo aos constantes apelos à sensibilidade do leitor, pelo abuso do patético; na invasão, não só do romance, mas de todos os gêneros literários, pelo espírito crítico, que era principalmente o do tempo. Tudo isso revia o momento, da pre-valência das ciências exatas e de uma filosofia inspirada de seus métodos e baseada nos seus resultados sobre a metafísica eclética do primeiro século.
VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira: de Bento Teixeira a Machado de
Assis. Brasília: Universidade de Brasília, 1963. p. 258-259.
12. Quais as principais características do Naturalismo levan-
Há dois pontos que o crítico ressalta: o fato de o Naturalismo ter sido, como o Romantismo, uma tendência geral mais do que uma escola ou grupo e o fato de que ambos se opuseram a seus antecessores − o Romantismo, ao Classicismo; e o Naturalismo, ao Romantismo.
13. Qual outro ponto de destaque que podemos notar no tex-
to de Veríssimo e que diga respeito ao romance O mulato?
A sugestão de um sacrifício do autor em benefício de pressupostos científicos parece fazer parte do quadro de ideias que animam o ro-mance de Aluísio Azevedo. Nele o autor quase não se mostra, como não era o caso dos românticos, que partiam do princípio de uma ex-posição do autor em sua obra. Azevedo se afasta de sua obra e procura apenas decalcar friamente os mecanismos “naturais” da sociedade.
14. Leia o trecho a seguir sobre Émile Durkheim, um dos pri-
meiros sociólogos a propor a ideia de que o homem é fruto de seu meio. Redija um breve comentário que estabeleça uma relação entre o pensamento positivista do sociólogo e o dos escritores da corrente naturalista, como Aluísio Azevedo, procurando identifi-car seus pontos em comum. Procure dar exemplos de O mulato 8
Émile Durkheim nasceu em Épinal, na França, em 15 de abril de 1858. Faleceu em Paris, em 15 de novembro de 1917. A contri-buição de Durkheim à construção da Sociologia foi combinar o trabalho teórico de formulação de conceitos e categorias de aná-lise da sociedade com o trabalho empírico, feito com dados da realidade social. Foi um dos primeiros a se utilizar de estatísticas para explicar os fatos sociais. [.]Entre os principais conceitos que formulou, está o da socialização. Para ele, instituições como a família e a escola são fundamentais para definirem quem somos, como devemos nos comportar e até o que sentimos. Assim, as características dos indivíduos [.] de-correm da sociedade e das relações estabelecidas dentro dela.
[.] não é possível pensar a existência de regras se não houver sua transgressão. Do mesmo modo que não é possível dizer que haja uma transgressão se não houver uma norma que diga o que é normal. Como a Sociologia é a ciência que estuda as instituições
sociais, segundo Durkheim, podemos pensar que ocorrem desvios nessas instituições. Como instituições, de acordo com o pensador francês, são artifícios humanos, trata-se dos desvios proporciona-dos pelos homens dentro das instituições
DIMENSTEIN, Gilberto et al. Dez lições de Sociologia para um Brasil cidadão.
Resposta pessoal. É importante que os alunos consigam compreen-der o fenômeno do pensamento positivista que norteou as ciências e as artes do final do século XIX e início do XX. Interessante levá-los a perceber que isso faz parte de um contexto global, estimulado pela Revolução Industrial e os ideais de progresso e domínio do homem sobre a natureza que predominaram naquele período. Essa questão pode ser ponto de partida para atividades ou projetos maiores, que inter-relacionem disciplinas como Sociologia, Filosofia, História, Ar-tes e Literatura.
A NOVA DO CADÁVER – A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA
Agora é com você, caro leitor. Valendo-se das orientações a seguir e das suas respostas às ati-vidades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor, mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro. Aluísio Azevedo escreveu uma obra com a marca da genialida-de. Seus personagens oscilam constantemente entre a divaga-ção interior e as lutas com a realidade de suas alucinações, e estão sempre no meio-fio entre a realização de suas fantasias e a realidade que os impede. A linguagem de O mulato, devido à sua diferença temática e expressiva em relação às demais obras literárias brasileiras da mesma época, é considerada o marco fundador de uma estética no Brasil: o Naturalismo. Como visto anteriormente, a corrente naturalista desdobrou-se à partir do Realismo, intensificando seu caráter investigativo e cientificista – características que abrem espaço para alguns con-siderarem o movimento muito rígido e de pouca poética, pouca arte. Entretanto, seja por meio da linguagem, da construção de 10
suas personagens ou até mesmo por aspectos de sua biografia, que encontram ressonâncias em sua obra, O mulato é uma das mais singulares da literatura brasileira. Para elaborar a sua Entrevista Imaginária, leia o debate de inter- pretações contido nos Diários de um Clássico e na Contextua- lização Histórica. Depois faça uma pesquisa de alguns dados da vida do autor. A abordagem pode mencionar ideias artísticas, teorias filosóficas e políticas do século XIX, fontes de inspiração ou até algumas características pessoais. Vale a pena também interrogar o autor sobre o que ele pensa das interpretações que fizeram de sua obra. Bom trabalho!
ARTICULO COMPLETO TRADUCIDO AL IDIOMA ESPAÑOL SETIEMBRE DE 2006 DISPERSION NOSOCOMIAL DE ENTEROCOCUS FAECIUM RESISTENTE A LA VANCOMICINA (ERV) Y AL LINEZOLID EN UN CENTRO MEDICO DE ALTA COMPLEJIDAD Thomas E. Dobbs, Mukesh Patel, Ken B. Waites, Stephen A. Moser, Alan M. Stamm, and Craig J. Hoesley Journal Of Clinical Microbiology, Set. 2006, p. 3368-3370. R