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Utilização off label do bevacizumabe (Avastin®) intraocular: viabilidade do fracionamento
STC - Setor de Suporte Técnico-científico Farmoterápica
Autora: Janaina Rezende
Em 2011, a Câmara Técnica de Oftalmologia do Conselho Federal de Medicina (CFM) encaminhou à ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) parecer técnico solicitando autorização para o tratamento com bevacizumabe (Avastin®) para pacientes portadores de Degeneração Macular Desde 2005, o bevacizumabe vem sendo utilizado no mundo inteiro para o tratamento da DMRI neovascular por via intravítrea.(2) Entretanto, a aplicação intraocular não está aprovado nem no Brasil e nem no exterior, caracterizando-se em um uso off label para tratamento da DMRI.(1,3) O bevacizumabe é aprovado no Brasil para tratamento de câncer colorretal metastático; câncer de pulmão de não-pequenas células localmente avançado, metastático ou recorrente; câncer de mama metastático ou localmente recorrente e câncer de células renais metastático e/ou avançado (bula do O aumento do interesse pela utilização do Avastin® para tratamento da DMRI deve-se a um preço mais acessível comparado aos outros medicamentos disponíveis no mercado nacional e internacional, que são aprovados para administração pela mesma via (Lucentis® e Macugen®) para A DMRI é uma doença ocular caracterizada pelo dano à mácula, que leva à perda progressiva da visão central.(4) Existem dois tipos de DMRI, a forma seca ou não exudativa e a forma úmida ou exudativa.(4) A forma seca ocorre em 79% dos casos, apresenta evolução lenta, sem nenhum tratamento cientificamente comprovado até o momento.(4) A forma úmida é caracterizada pelo crescimento de vasos sanguíneos imaturos, resultando na formação de uma membrana neovascular coroidal (MNVC). Esse processo é conhecido como neovascularização coroidal (NVC).(4) O fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF - vascular endothelial growth factor) está envolvido no desenvolvimento e progressão da NVC por induzir a formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese), aumentar a permeabilidade vascular e a resposta inflamatória.(4) O paciente pode manter a visão periférica, mas a habilidade para execução de atividades refinadas fica prejudicada.(4) A DMRI é a principal causa de cegueira em pacientes com mais de 50 anos em países desenvolvidos, e, embora cerca de 80% dos pacientes sejam acometidos pela forma não vascular, a neovascular úmida é responsável por quase 90% da perda grave de visão resultante da DMRI.(5) O bevacizumabe (Avastin®) é um anticorpo monoclonal humanizado inibidor de angiogênese, cujo mecanismo é bloquear o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF).(4) Além do bevacizumabe, existem 2 outros anticorpos com o mesmo alvo de ação, todos de administração intravítrea e indicação terapêutica aprovada pela ANVISA: o pegaptanibe (Macugen® - Pfizer) e o ranibizumabe O pegaptanibe foi o primeiro inibidor de angiogênese aprovado para o tratamento da DMRI pela ANVISA. O medicamento é comercializado em seringa preenchida com 0,3 mg, para administração a cada 6 semanas.(4) Apresenta especificidade de ligação à isoforma VEGF165, enquanto o becavizumabe e ranibizumabe não são específicos, podendo bloquear qualquer isoforma.(6) Após tratamento com o pegaptanibe, verificou-se que os pacientes apresentaram risco reduzido de perda da acuidade visual e melhora da acuidade visual em menor grau quando comparado ao ranibizumabe, que além desta melhora, preveniu a perda de visão.(6) O ranibizumabe (Lucentis®, Novartis) apresenta na formulação os excipientes polissorbato 20 e trealose diluídos em água para injetáveis para injeção intravítrea (bula do produto). O ranibizumabe foi desenvolvido pela empresa americana Genentech Inc. a partir da fragmentação do bevacizumabe, inclusive com o mesmo numero de patente de molécula que o bevacizumabe, depositado no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) (PI98093879 de 03/04/1988), sendo registrado na ANVISA em setembro de 2007.(4) O ranibizumabe infiltra-se com maior facilidade devido ao menor peso molecular, atingindo maiores concentrações no espaço sub-retiniano e coroideano.(4) A dose usual de ranibizumabe é de 0,5 mg em um volume de 0,05 mL (bula do produto). No começo do tratamento, a aplicação é mensal, por três meses consecutivos, seguido por uma fase de manutenção em que os pacientes devem ser monitorados mensalmente quanto a sua acuidade visual.(4) Se o paciente apresentar uma perda de mais de 5 letras na acuidade visual (EDTRS ou uma linha equivalente Snellen), o ranibizumabe deve ser administrado novamente. O intervalo entre as duas doses não O Avastin® foi aprovado pelo FDA em 2004 para o tratamento de câncer colorretal e em 2005 surgiram os primeiros trabalhos sobre o uso off label intraocular para tratamento de DMRI.(7) O uso intraocular de bevacizumabe foi estudado inicialmente por Rosenfeld et al.(7) Na época, os pesquisadores compararam os resultados da infusão endovenosa de bevacizumabe ao ranibizumabe intravítreo em pacientes com DMRI, encontrando resultados semelhantes.(7,6) Como o custo do tratamento com o becavizumabe não foi vantajoso financeiramente e as duas moléculas são similares, os pesquisadores publicaram 2 estudos em 2005 avaliando a utilização intraocular de bevacizumabe, com resultados favoráveis.(2,4) Desde então, foram feitos vários estudos clínicos, que apresentam, em sua grande maioria, resultados positivos sobre a segurança de utilização do Avastin® intraocular para tratamento de DMRI,(5) sem efeitos adversos graves.(7) Questões econômicas são apresentadas na literatura sobre o uso off label do Avastin®. O Avastin® possui apresentação de 400 mg em 16 mL ou 100 mg em 4 mL (25 mg/mL), já reconstituído em água para injetáveis, apresentando pH em cerca de 6,2(8) com os excipientes trealose, polissorbato 20 e tampão fosfato na formulação para infusão intravenosa (dados de bula). A dose comumente utilizada para esta aplicação é de 1,25 mg (0,05 mL), mas 2,5 mg (0,1 mL) também pode ser usada em cada olho submetido ao procedimento.(9-12,8) Enquanto cada aplicação de Lucentis® nos EUA custa cerca de US$ 2000,00, cada aplicação de Avastin® custa de US$ 17-50,00, cerca de 40 vezes mais Como o ranibizumabe, o bevacizumabe é um anticorpo monoclonal que se liga e inibe todas as isoformas de VEGF. Sendo uma molécula maior, o bevacizumabe (149 kDa) possui uma meia-vida de 17-21 dias, enquanto o ranibizumabe (48,39 kDa) apresenta meia-vida de 3 dias e, em função disto, foi sugerido por alguns pesquisadores que o bevacizumabe apresentaria maior probabilidade de indução de efeitos adversos.(7) Entretanto, esta teoria ainda não pode ser comprovada. O estudo clínico com maior número de pacientes realizado até o momento foi publicado em 2011 pelo The CATT (Comparison of Age-Related Macular Degeneration Treatments Trials) Research Group, que avaliou 1200 pacientes, comparando os efeitos de uma dose de 1,25 mg de bevacizumabe com 0,5 mg de ranibizumabe administrados a cada 28 dias, com desfecho analisado após 1 ano de tratamento.(14) Não houve diferença significante entre os grupos. Os pacientes apresentaram melhora de acuidade visual similar (ranibizumabe = ganho de 8,5±0,8 letras; bevacizumabe = ganho de 8,0 ±1,0 letras), com incidência de eventos adversos e hospitalizações semelhantes entre os grupos (ranibizumabe = 17,6%, bevacizumabe = 21,5%; hospitalizações: ranibizumabe = 19%, bevacizumabe = 24,1%).(14) Embora o estudo do CATT tenha chegado a resultados mais sólidos em relação à eficácia, o estudo foi insuficiente para identificar diferenças de ocorrência de efeitos adversos entre os tratamentos.(15) Estes resultados somados à experiência clínica divulgada na literatura, favorecem a utilização do bevacizumabe para DMRI.(15) Estabilidade do Avastin® Fracionado
Questões sobre a manutenção da estabilidade e esterilidade após fracionamento devem ser observadas. Em bula, é descrito que o Avastin deve permanecer em geladeira até o momento do uso, protegido da luz. Após diluição com NaCl a 0,9% para infusão endovenosa, o fabricante estabelece estabilidade de 24 h sob refrigeração de 2-8°C e de 1 ano de cada ampola sem abertura da embalagem a 2-8°C. Para utilização intravítrea, há alguns estudos na literatura sobre a estabilidade do medicamento após fracionamento. Há relatos em que o produto fracionado para uso off label é mantido em seringas até 14 dias em geladeira.(16) Outros estudos demonstram a manutenção da estabilidade e esterilidade do medicamento fracionado em seringa de até 6 meses sob refrigeração a No Brasil, o fracionamento do Avastin® deve seguir as disposições referentes às Boas Práticas para Preparo de Dose Unitária e Unitarização de Dose de Medicamento, descritas na RDC nº 67/2007, que estabelece as Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em Farmácias.(17,4) Um medicamento que seja fracionado deve ser utilizado dentro de 48 horas,(17) conforme descrito no item 9.5 do anexo IV: “Ficam dispensadas dos testes de esterilidade e de endotoxinas bacterianas toda preparação estéril, obtida por reconstituição, transferência, incorporação ou fracionamento de especialidades farmacêuticas estéreis, com prazo de utilização de 48 horas e nos casos de administração prolongada (dispositivos de infusão portáteis), desde que a infusão inicie até 30 horas após o Desta forma, conforme legislação, a dose unitária do Avastin® (mantido sob refrigeração de 2-8°C, sem diluição) pode ser fracionada e dispensada com prazo de 48 h sem necessidade de testes de esterilidade e endotoxinas.(17) Após este período, além da necessidade de realização dos testes citados anteriormente, a RDC nº 67/2007 estabelece que o prazo de validade será de no máximo 25% do tempo remanescente, quando houver rompimento da embalagem primária do produto, caso não haja recomendação específica do fabricante, mantendo-se a segurança, qualidade e eficácia do medicamento, observando-se as boas práticas de manipulação, estocagem e transporte.(17,4) Em 2011, o FDA divulgou um alerta sobre casos de contaminação após aplicação de Avastin® intraocular em clínicas oftalmológicas nos EUA.(18) Verificou-se que todos os pacientes receberam um aplicação de um mesmo lote do medicamento, que foi fracionado em uma mesma farmácia. Tal relato levanta a importância de todo o processo ocorra em condições que garantam a esterilidade do Avastin® fracionado, que deve ser feito com técnicas assépticas e de modo a não expor o paciente a riscos advindos de contaminação microbiológica, como infecções e cegueira.(19) A utilização off label de um medicamento é responsabilidade do médico prescritor. Ao prescrever um medicamento com indicação não aprovada em bula, o médico assume a responsabilidade pelos possíveis riscos dessa conduta, sendo necessário o esclarecimento de tal situação ao paciente.(4) O ato de se prescrever um medicamento que foi aprovado após testes clínicos que comprovaram a sua eficácia e segurança por uma alternativa mais barata, mas que permitirá o acesso a um tratamento mais eficaz conforme evidências disponíveis em literatura para DMRI, constitui-se em um dilema ético Referências Bibliográficas:
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Source: http://www.sobrafo.org.br/docs/Avastin_Artigo%20SOBRAFO_01.2012%20(1).pdf

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